Com a boca torta

Com a boca torta

Dizem os antigos que o hábito do cachimbo deixa a boca torta. Pois não é que é mesmo. O exercício da Presidência da Câmara por dez mandatos pelo vereador Cícero Gomes da Silva (PMDB) o deixou meio parecido com o cargo. Capaz de provocar confusões mentais.

Ainda na tarde do dia 2 de janeiro, primeiro período de expediente após as festas de final de ano, um assessor do vereador atendeu a uma ligação como se fosse do gabinete da Presidência. Desconcertado, consertou e se desculpou em seguida. Mas foi apenas um exemplo.

Já no dia seguinte, durante uma rápida cerimônia ecumênica em que ocorreu uma espécie de transmissão de cargo para o novo presidente, Walter Gomes (PR), por mais de uma vez um pastor evangélico se referiu ao ex-presidente como atual chefe do Legislativo.

É o costume. Lá pelos corredores do Senado, muita gente ainda acha que José Sarney (PMDB) é o presidente da Casa. E há muitos que ainda pensam que Luiz Inácio Lula da Silva é ainda o presidente da República. E deve ser um pouco sim.

Não é culpa das pessoas. É culpa do sistema eleitoral que permite infindáveis reeleições para o Legislativo. Chega-se ao cúmulo, no Senado, de depois de oito anos ainda ser possível a reeleição.

E assim os eleitos começam a se parecer com seus mandatos. Pior. Os vícios começam a ter um aspecto natural, como se assim o fossem. E os eleitores vão ficando, a cada eleição, com a boca mais torta. Ou os dedos.

Compartilhar: