Convite da discórdia

Convite da discórdia

Assim como um abraço de urso, convite de vereador à prefeita não recebeu a simpatia de muitos

Nem todo convite é para agradar. Alguns até desagradam bastante. Soam assim como um presente de grego, para expor, humilhar ou sacrificar o convidado. Principalmente quando não é para uma festa, uma comemoração.

Foi assim encarado um convite feito pelo vereador de Ribeirão Preto Maurício Gasparini (PSDB) à prefeita Dárcy Vera (PSD), por meio de requerimento aprovado por oito votos favoráveis. Os outros 12 vereadores com obrigação de votar se abstiveram de opinar - apenas no voto - sobre o assunto.

Na primeira sessão do ano, apenas para escolha de integrantes de comissões permanentes, houve vereador que buscou outras formas de chamar a atenção para seu trabalho. Uma delas foi o convite, que serviu à oposição e à situação.

O tucano fez o requerimento para convidar a prefeita a ir à Câmara Municipal com o objetivo de explicar problemas da cidade e anunciar propostas para o último ano de governo. É claro que a ação tem também pelo menos um pouco de marketing político. Ou eleitoral.

Mas antes mesmo de a convidada se manifestar ou “agradecer” o convite, os aliados dela questionaram a validade, o tempo, a oportunidade, a ocasião, o local e a vontade do opositor.

O vereador até explicou que governantes vão ao Legislativo no retorno do recesso e que o convite seria uma oportunidade de explicações da prefeita, mas alguns apoiadores enxergaram na ação o fato uma oportunidade de palanque eleitoral.

E, de quebra, apesar da demonstração de indiferença ao votarem abstenção, parte deles aproveitou também para uma crítica a aliados de opositores do governo municipal.

O petista Beto Cangussú chegou a sugerir que também se convide políticos de Ribeirão Preto citados na operação Alba Branca, que apura denúncias de desvios de recursos da merenda escolar.

Coraucci Netto (PSD) apontou que se a Câmara for convidar todos os políticos que enfrentam problemas com denúncias não haverá mais sessões ordinárias ou extraordinárias.

O peemedebista Samuel Zanferdini atacou a oposição e disse que nem bem começou o ano legislativo e já teve início o palanque eleitoral. Depois da acusação, fez também suas críticas com destino assim bem eleitoral.

Líder do governo na Casa, Genivaldo Gomes (PSD) cravou que o problema da dengue não é apenas da prefeita, mas agora mundial. Também sugeriu que, assim, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deve ser convidado a falar na Câmara.

No desejo de proteger e defender a Administração Municipal, Genivaldo encontrou como culpados pela buraqueira das ruas os deputados que não destinam emendas para o recapeamento.

A defesa da chefe do Executivo contou também com a ajuda do comunista André Luiz da Silva, para quem a cidade tem problemas e mazelas, mas reconheceu que a Administração Municipal tomou medidas para combater o mosquito transmissor da dengue.

Gasparini contou com o apoio dos colegas Ricardo Silva (PDT), Marcos Papa (Rede) e Gláucia Berenice (PSDB) que falaram da tribuna da Câmara. Mas teve o mérito de incentivar a discussão do morno dia com um “simplório” convite.

CPIs ETERNAS
Os requerimentos não foram aprovados por uma discussão iniciada por vereadores de oposição, mas serão em sessão próxima. Cinco pedidos de prorrogação de prazos de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) foram apresentados à Câmara. Há investigação que está na Casa desde 2011. As mais recentes são de 2014. Os pedidos foram feitos por Capela Novas (PPS), três deles, Giló (PR), e Genivaldo Gomes (PSD). As comissões temporárias da Casa têm prazo determinado de conclusão de 120 dias, mas podem ser prorrogadas, o que ocorre na maioria das vezes

ADIAMENTOS
A vereadora Gláucia Berenice (PSDB) pediu votação em separado dos requerimentos. Depois, Marcos Papa (Rede) pediu discussão, o que adia a votação para a sessão seguinte. Mas outra iniciativa, de autoria do vereador Genivaldo Gomes, aprovada pelos vereadores, adiou a discussão e votação por duas sessões. O assunto ficará para depois da folia de momo. Já a conclusão das tais investigações deve encontrar ainda muitas colombinas pela frente.

ABSTENÇÃO DA MAIORIA
Pode não ter sido a primeira vez. Pode também não ser a última, mas maioria de vereadores votar abstenção em determinada proposta, como aconteceu nesta terça-feira, 2, não é algo comum. Até porque os vereadores foram eleitos para defender suas opiniões, no lugar dos representados, que defenderam na urna suas opiniões.

JUSTIFICAÇÃO?
Acostumado a criar neologismos – involuntariamente, na maioria dos casos – o vereador e presidente da Câmara Municipal de Ribeirão Preto Walter Gomes (PR) disse ao colega Maurício Gasparini (PSDB) que não existe “justificação” para requerimentos. Houve até quem riu fala, mas nesta ele não está errado. A palavra, um substantivo feminino, existe e é traduzida como ato de se justificar.

Foto: Viviane Mendes / Câmara Municipal

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