Doença de terceiro mundo

Doença de terceiro mundo

A proliferação da dengue em pleno 2015 é uma prova incontestável da falta de educação do povo somada ao pouco comprometimento do poder público

Em meados de 1990, um então secretário-executivo do Ministério da Agricultura e Abastecimento referiu-se à febre aftosa como uma doença de terceiro mundo, de produtores relapsos que não conseguiam vacinar seus rebanhos no tempo correto. Bastava vacinar, argumentou.

A afirmação foi feita em Ribeirão Preto, em uma entrevista concedida antes de palestra em uma universidade da cidade, e deixou algumas pessoas que acompanhavam a entrevista em uma reflexão, assim, meio envergonhada. Até porque a citação vinha de uma autoridade do governo federal.

Pois então. Agora vem essa proliferação do mosquito que consegue transmitir, sozinho, quatro doenças. Uma inequívoca constatação de que parte da população não tem conseguido nem cuidar de suas casas a contento. Limpar, eliminar criadouros do mosquito, sumir com a água parada.

Muitos podem até cuidar bem de seus espaços, mas ao mesmo tempo jogam lixo em terrenos baldios que podem juntar água. Nem é preciso muito. Um copinho de servir café já é o bastante para ajudar na infestação do criminoso mosquito

Assim, no caso do Aedes aegypti, nem é preciso comprar vacina, conservar em ambiente refrigerado e avisar as autoridades sanitárias. Não há um controle rígido. Por isso é aparentemente mais fácil evitar que o mal se propague. Ou mais difícil em função da falta de controle. Mas basta à população aumentar o cuidado com seus espaços.

Evidentemente que esta população precisa estar bem orientada para fazer a sua parte. E claro que o poder público precisa, além de orientar com eficiência, dar exemplo, limpando áreas de sua propriedade e punindo proprietários que não cuidam da limpeza de locais privados.

Ao poder público cabe então alertar permanentemente as pessoas a respeito do risco que as doenças trazem. De morte, inclusive. Campanhas educativas sempre serão bem aceitas, com o intuito de estimular a vontade do cidadão em fazer a sua parte.

Então é preciso união para tentar reduzir as consequências, uma vez que parte do estrago já se concretizou.

DOENÇA NOVA?
No sufoco de bem divulgar a grave situação provocada pela proliferação do mosquito transmissor da dengue, zika vírus, chikungunya e febre amarela, a prefeita Dárcy Vera (PSD) até encontrou um novo nome de doença. Em entrevista ao vivo ao Jornal da Clube, a prefeita se referiu à chikungunya como chickungaia. Ou mais ou menos isso, pelo que foi possível ouvir.

CAMPANHA EM AÇÃO
O vereador Ricardo Silva (PDT) provável candidato à sucessão da prefeita Dárcy Vera não deu folga a seus auxiliares nem no período de festas. Nos dias que antecederam a passagem de ano, emissários do político visitaram pessoas em suas casas para falar do trabalho do vereador na Câmara Municipal. Quando conseguiam a atenção, explicavam ao morador o que os que os levavam ao local. Em caso de resistência de atendimento, deixavam ao menos um jornal de prestação de contas do parlamentar.

COMPARAÇÕES
Dizendo-se contrário à construção de um anexo na Câmara Municipal, orçada em R$ 6,8 milhões, o vereador fez comparações das obras que poderiam ser realizadas com o dinheiro. Afirmou, no jornal, ser possível construir três Unidades de Pronto Atendimento ou contratar 40 médicos. Também daria para tapar 113 mil buracos ou recapear 340 ruas. Outra opção seria a construção de quatro novas creches ou reformar 34 praças do município.

ALHOS COM BUGALHOS
Mas o marketing usado para confundir o eleitor também foi utilizado. Ricardo Silva utilizou o trabalho de seu pai, deputado estadual Rafael Silva (PDT), para dizer que ele, vereador, trabalhou também foi responsável pela conquista de mais de R$ 15 milhões para entidades. Inteligente, Ricardo sabe que não é bem isso. Conhecedor do espaço que habita sabe também que trazer recursos não é o principal trabalho de um parlamentar. É, aliás, um desvio de função cometido sistematicamente.

ELE DISSE
“Estes números são indícios de que já estamos em epidemia, o que será confirmado pela consolidação dos dados epidemiológicos do próximo Boletim, a ser divulgado no dia 15 de janeiro”
Stênio Miranda, secretário Municipal da Saúde de Ribeirão Preto, sobre a epidemia de dengue, ao afirmar que são feitos cerca de 120 exames por dia, com taxa de positividade próxima de 50%

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