
É preciso ver quanto vale
Quanto custa um vereador, o eleitor já sabe. E é possível avaliar por meio de mecanismos razoavelmente fáceis
O ano era 1988, ou 1989. Uma repórter de um jornal semanário de Ribeirão Preto resolveu conferir a assiduidade dos vereadores nas sessões ordinárias. Mas ela não anotou o registro de presença apenas no início das reuniões, mas no final, por meio das atas.
Publicada a reportagem, um vereador reclamou com ela e com o editor do jornal que a publicação poderia complicar a vida dele em casa, porque justamente naquele dia ele tinha saído mais cedo da sessão e não tinha voltado para casa. Logo sua esposa iria questionar.
Não me lembro o nome do vereador, caso contrário informaria (e não vou correr risco de cometer injustiça), mas a história é verdadeira e foi publicada no extinto Jornal de Ribeirão, que era impresso na gráfica do também extinto Diário de Notícias, dentro do campus da Unaerp.
Todo esse preâmbulo é feito em função de uma surda discussão que ocorre toda vez que os vereadores de Ribeirão Preto buscam reajustar os próprios subsídios. E os reajustam eles próprios porque são os únicos que podem fazê-lo.
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Daí ficam fazendo escondidinho, sem discussão, como se estivessem fazendo a coisa mais proibida do mundo. Como se não merecessem o subsídio que recebem. E muitos devem até achar que não merecem mesmo.
Porque o fato mais comum do mundo é trabalhador fazer greve por reajuste salarial e ganhar o apoio da sociedade, mesmo quando a população é prejudicada pela paralisação. Já os vereadores se escondem, como se ganhassem um dinheiro sujo, sem justificativa.
Sim, os parlamentares merecem subsídios. Dedicam tempo e conhecimento para cuidar das coisas da cidade. Para impedir que exista uma ditadura, para frear o Executivo em ações que podem prejudicar a cidade.
Muitos, no entanto, não merecem metade do que recebem. O que o contribuinte/eleitor precisa fazer é distinguir entre joio e trigo. Tem muito vereador que passa o mandato fazendo homenagem em troca de voto. Olho nele.
Há outros vereadores que se contentam em fazer projetinhos de lei que em nada mudam a vida do cidadão. Há ainda os que produzem milhares de requerimentos e indicações que nunca produzirão qualquer efeito.
Por isso, mais do que reclamar do reajuste, o cidadão deve fiscalizar a vida do vereador. E não é difícil. Siga o caminho das pedras.
No portal oficial da Prefeitura, há um link para Legislação
Na página, basta colocar o nome do vereador em questão no local onde está a indicação Frase-conteúdo.
Com isso, a pesquisa vai mostrar todas as leis apresentadas pelo vereador. Mas o trabalho do vereador não se resume a apresentação de leis, mas também à fiscalização do Executivo.
Para saber mais é preciso acompanhar as sessões da Câmara. Todas são transmitidas ao vivo e gravadas. Podem ser vistas pelo Yotube, no canal da TV Câmara, no momento da sessão ou depois.
Se quiser aprofundar para saber mais sobre o vereador, pesquise no site da Câmara e veja de quais comissões – permanentes e temporárias – que ele participa. Qual resolutividade tem as comissões que ele dirige ou participa? Também estão no site do Legislativo as pautas e os resultados das sessões, com os votos de cada um.
Com isso, é possível saber quem vale o que ganha. Porque custar alguma coisa, o vereador sempre vai custar. Se muito ou pouco depende da análise de cada um.