Falou pela barriga
Guto Silveira
10 Mai 2016 09:51
Ato do presidente interino da Câmara Federal é inominável e deve receber punição
Preciso pedir desculpas ao autor, porque não lhe lembro o nome. Mas foi em uma peça de teatro que ouvi a citação de que determinado fulano falava sem que as palavras lhe passassem pela cabeça. “As palavras saem da barriga e vão direto para a boca”, apontava o parte do texto.
Era uma frase engraçada. Os expectadores riam da citação, dita com graça pelo ator em cena. Mas agora temos que um presidente – mesmo que interino – da Câmara dos Deputados fez exatamente isso. Falou com as palavras saindo direto da barriga. Desgraçadamente. Sim, porque não tem graça nenhuma.
E não tem graça porque levou esperanças a uns, irritação a outros, provocou trabalho desnecessário a muita gente (jornalistas e assessores parlamentares, por exemplo) e gerou despesas públicas, claro, pagas com o dinheiro do contribuinte.
Waldir Maranhão (PP-MA) foi além. Ao anular por menos de 24 horas sessões tão importantes da Câmara dos Deputados, quando foi votada a continuidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), levou a comemorações desnecessárias.
A comemoração em questão aconteceu em uma cerimônia no Palácio do Planalto, que estava, inexplicavelmente, recheadas de bandeiras partidárias em um espaço público.
No Senado levou a discursos vários, provocações, enfrentamentos entre situação e oposição. Já na área jurídica o ato levou piadinhas e declarações irônicas de graduados especialistas.
De quebra, a ação do maranhense no exercício da Presidência de Câmara Federal, conseguiu envolver o advogado-geral da União José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça, que teve sua carreira, no mínimo, manchada.
E ainda provocou a demissão do filho, Thiago Augusto Azevedo Maranhão Cardoso, do Tribunal de Contas do Estado (TCE) do Maranhão, onde era considerao funcionário fantasma, já que é médico em São Paulo, onde ele próprio declara trabalhar em dois hospitais.
Ao menos um fato positivo para economia de recursos públicos, já que Thiago Augusto ganhava cerca de R$ 6,5 mil por mês.
Tudo para que? Para voltar atrás cerca de 14 horas depois. Por falta absoluta de reflexão, de raciocínio. De pensar com a barriga, apenas para obedecer a detentores temporários de poder.
Foi um ato vergonhoso do senhor deputado, que deveria ao menos pagar as despesas que provocou com seu despropósito subserviente.
REFLEXOS EM RIBEIRÃO
O ato impensado de Waldir Maranhão levou a pelo menos um ato prático em Ribeirão Preto. O presidente local do PP, partido do deputado, vereador Maurílio Romano, que também integra a executiva nacional, pediu providências quando à traição do filiado maranhense. Em ofício, Romano lembrou ao presidente nacional do partido, Ciro Nogueira, que a sigla fechou questão para votar a favor do impeachment da presidente.
NOVA COMISSÃO
Três dias após nomear uma comissão de sindicância para apurar a aplicação de recursos em provas da Stock Car, questionados em ação da Justiça Federal, a prefeita Dárcy Vera (PSD) mudou parte dos membros do grupo. Sonia Cristina Anholeto Mialich, lotada na Secretaria dos Negócios Jurídicos, passou de membro a presidente da comissão, em substituição a Marina Amorim Cavalcante de Oliveira, lotada na Coordenadoria de Fomento de Projetos, que deixa a comissão.
MENOS MEMBROS
Além da nova presidente duas, continua na comissão a advogada Maria Zuely Alves Librandi, secretária assistente na Casa Civil, e Cristina Lúcia Araújo Barbosa, lotada na Secretaria Municipal da Administração. Também está fora da comissão o jornalista Eliezer Guedes Furtado, chefe da Coordenadoria de Comunicação Social (CCS), da Prefeitura.
VENDA DE DÍVIDA
Opositores do governo da prefeita Dárcy Vera (PSD) devem ter lido com atenção a liminar que suspendeu a licitação para a securitização (venda) da dívida ativa do Daerp. A juíza que concedeu a liminar considerou que em função do valor a ser pago, R$ 18,9 milhões, a disputa não deve ser por pregão presencial, mas por concorrência. Com o objetivo vender a dívida ativa da administração direta, a Prefeitura abriu também pregão presencial e pretende pagar até R$ 40 milhões, mais que o dobro.
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
