Inimigos no poder

Inimigos no poder

Aquela máxima de que a representação política é o espelho da sociedade não vale mais;
hoje a bronca está no Senado, mas pode andar, correr

Cantem todos juntos ao menos um verso de Cazuza: “meus inimigos estão no poder”. Pode ser que nem haja heróis morrendo de overdose, mas é certo que o poder, em sua maioria, vem sendo exercido há tempos por inimigos da população.

Parece inimaginável que ocorram tantas denúncias, tantas gravações de discursos sujos, nojentos de ocupantes de altos postos da República. Dá até uma dor nos lábios ao falar de República em um Estado que tem tido tão poucos republicanos.

Veja então, para comprovar, se preciso for, esta frase: "Do Congresso, se sobrar cinco ou seis, é muito. Governador, nenhum”. A afirmação é atribuída, pela Folha de S. Paulo, ao ex-presidente da Eletrobrás Sérgio Machado.

O jornal aponta que a afirmação foi feita em gravação de Machado com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Sim, não foi com um assessor qualquer. Foi com alguém que tem o poder de pautar as decisões políticas nacionais.

Agora é Renan Calheiros, mas já houve – dentro desta semana – o ex-ministro do Planejamento e senador Romero Jucá (PMDB-RR). Outros virão. De outros partidos, outras correntes, outros Estados, outros cargos...

E assim, de gravações vazadas e delações premiadas, o contribuinte/eleitor vai consolidando sua opinião de que no poder só há inimigos seus. Que há um corporativismo em que todos que se elegeram ou ocupam cargos por nomeações estão preocupados apenas com a própria situação.

Há alguns “solidários” que ainda protegem alguns amigos. Outros, nem tão amigos, se juntam numa formação de quadrilha que ultrapassa em muito o número de quatro pessoas.

É triste, muito triste, ver que um país afundado em uma grave crise econômica tenha que ver os responsáveis pela busca de soluções cada vez mais afundados em lama. Em denúncias que, se bem apuradas, se converterão em crimes.

E não há privilégios. Os poderes Executivo e Legislativo, em seus três níveis, têm motivos de sobra para serem seriamente investigados. Há denúncias para todos onde a honestidade tem se mostrado cada vez mais rara.

Infelizmente.

ECONOMIA CRITICADA
“Fiquei triste de saber que a Prefeitura economizou 2,1% de gastos com a saúde. Não dá para poupar esse tipo de coisa. E não há oposição ou situação que suporte isso. Há indignação. Porque não se pode fazer economia matando pessoas”. A afirmação não é de nenhum opositor criticando cortes no orçamento da saúde. É do vereador Cícero Gomes da Silva (PMDB), aliado de primeira hora da prefeita Dárcy Vera (PSD).

INDIGNADO
O vereador governista disse ter recebido a informação da “economia” na audiência pública de demonstração de metas da Secretaria da Saúde, realizada na Câmara Municipal. Outros vereadores, aliados e oposicionistas, criticaram os problemas na saúde, notadamente o fechamento do Centro de Atendimento Psicossocial (Caps), que funcionava no Ipiranga.

MUDANÇA DE LOCAL
O líder do governo na Câmara, Genivaldo Gomes (PSD), argumentou que não houve fechamento, mas que haverá mudança de endereço do atendimento. Cícero Gomes não amenizou suas críticas. “Primeiro é preciso arranjar o local, divulgar. Não é possível fechar e dó depois abrir. Já vi esse filme”, disse o vereador.

PROJETOS RETIRADOS
Depois de uma manifestação em separado de dois integrantes da Comissão de Finanças, Orçamento, Fiscalização e Controle, a Prefeitura retirou da Câmara três projetos que previam a cobrança de contribuição de melhoria em três bairros. O posicionamento contrário ao projeto foi assinado por Gláucia Berenice (PSDB) e Marcos Papa (Rede). Foi a segunda vez neste ano que os projetos, impopulares, deixaram de ser votados.

Foto: Moreira Mariz / Agência Senado

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