João está dividido

João está dividido

João anda hesitante nos últimos dias. Grande simpatizante da esquerda nos anos 1970, 80 e que tais – até quando era possível distinguir bem a esquerda no Brasil – ele agora está em dúvida.

Já não sabe se é de direita, de esquerda, de centro, coxinha ou simpatizante de qualquer causa. Suas vontades se esvaíram nesse meio triste que se transformou a política nos últimos anos, notadamente nos últimos meses. Um conjunto disforme da sociedade onde o poder vale terrivelmente mais que pricípios e ideais.

Contrário a divisionismos - principalmente quando se trata do povo de seu País -, João pensa em ir à manifestação de domingo. Mas longo pensa que lá vai estar a elite branca paulista (como costuma denominar os simpatizantes do governo), à qual ele não pertence. Mal se equilibra na classe média baixa.

Com esse raciocínio pensa em desistir. Acha que será identificado como um coxinha pelos apoiadores do governo federal, que por tabela apoiam também um pouco a corrupção nas estatais e a forma não muito honesta de conquistar o poder.

Também considera que lá no meio da multidão há muita gente pedindo a volta hedionda dos militares ao poder. E ele que pichou muros, vendeu jornais alternativos para ajudar a financiar a oposição ao regime militar não pode compactuar com isso.

Deu dois passos atrás. Mas sente que isso pode ter sido apneas para ter impulso. E logo raciocina que também não concorda com os desvios de recursos públicos, a corrupção sistematizada sem a correspondente punição. Começa a pensar em ir na manifestação.

Também percebe que o governo,  fraco como está, não poderá conduzir bem o País. E bem que uma manifestação bem feita pode dar uma chacoalhada no governo e este procurar se fortalecer, melhorar.

E sabe ele que o governo se enfraqueceu por suas próprias mãos. Sob denúncias várias, ficou à mercê de aproveitadores que desfilam como santos nos corredores do Congresso Nacional.

Então é bom também criticar os parlamentares. Pra ver se aquele povo toma jeito. Se arranja um pouco de vergonha e começa a pensar também, mesmo que seja um pouco, no País.

Pronto, João já está quase comprando a camiseta amarela (ou verde) para ir ao protesto. Pensa ainda um pouco que o governo é até um pouco progressista. Muito menos do que ele esperava, claro. E volta a refletir.

Esquece a camiseta manifestante por enquanto. Não sabe se vai. Decide ler mais um pouco sobre o governo e seus defensores (alguns remunerados) nas redes sociais.

Depois de muita análise ainda hesita. Não sabe o que decidir. Será preciso aguardar a aproximação da manifestação. Ou mesmo a sua chegada.

Até lá, anjos e demônios tentarão o pensamento de João.

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