
O que a campanha eleitoral ensina?
Há tanto a aprender com uma campanha eleitoral. Muito embora não seja essa a aparência. O mais chato é que a propagando por mais de três meses não consegue orientar direito os eleitores. Nem ensina como fazer política com decência.
Mas é possível aprender muita coisa. A principal delas é a não acreditar nos candidatos. Por exemplo, um deputado federal fala do tempo que seu partido governou São Paulo. Mas não há qualquer notícia de que tal partido tenha estado no governo. Um partido antecessor, talvez.
Dá para aprender que o País está uma maravilha, pelas lentes dos marqueteiros que conseguem imagens de cinema para a campanha. Situação igual vale para estados onde o governador é candidato à reeleição. No meio da propaganda, você fica sabendo que a corrupção não aumentou. Está apenas mais fiscalizada.
Com a mentira correndo solta e a transparência presente, descobre-se fatos que antes não eram descobertos. Dia desses uma candidata bateu no peito e disse que não é sustentada por bancos. Em menos de dois minutos foi possível descobrir que dois bancos doaram à campanha dela, mais de R$ 5 milhões.
Mas o aprendizado vai muito mais além. É bastante provável que os alunos/eleitores não estejam é prestando a devida atenção. Há rimas memoráveis em nome do voto. Personagens renascidos das cinzas e homens “honestíssimos” com candidaturas barradas pela Justiça Eleitoral.
No meio desse curso intensivo, o eleitor tem a chance de descobrir que há um ódio mortal nas redes sociais. Que partidários de um fazem de tudo para manchar a imagem de outro, sem se preocupar em divulgar propostas e projetos.
E que existe gente paga para ficar o dia todo em um computador não com a missão de construir uma candidatura, mas com a tarefa de destruir outras.
Há, ainda, um aprendizado bastante irritante. O contribuinte que assiste, todos os dias, servidores públicos conhecidos compartilhando campanha nas redes sociais.
E olha que não são poucos. De várias candidaturas. Parece uma bobagem, mas não é. Servidores públicos recebem dinheiro público. Logo não deveriam fazer campanha em horário de expediente.
Isso pode até parecer excesso de moralismo, mas foi de concessão em concessão que a política chegou onde está. Com valores terrivelmente destruídos.
DOAÇÕES BEM DIRECIONADAS
Há uma prova inequívoca de que os financiadores de campanha preferem financiar quem tem chance de devolver, se possível corrigidos, os recursos aplicados. Ou que já tenha recebido tais recursos em administrações passadas. Assim, o volume de recursos costuma obedecer a ordem da classificação dos candidatos nas pesquisas eleitorais. Os que têm menos chances até recebem doações das mesmas fontes, mas em valores menores.
MAIS QUE O TRIPLO
Na campanha presidencial, por exemplo, a presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT), em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais, declarou à Justiça Eleitoral ter recebido R$ 123,3 milhões em doações até o final de agosto. O senador e candidato Aécio Neves (PSDB), em terceiro, conseguiu R$ 40,65 milhões no mesmo período. Marina Silva (PSB), segunda colocada, não declarou receitas e despesas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
SITUAÇÃO INVERSA
Na disputa pelo governo de São Paulo a situação da arrecadação é inversa em relação aos partidos, mas também obedecem à lógica de melhor posicionamento na campanha. O governador Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à reeleição e primeiro nas pesquisas, arrecadou R$ 14 milhões, enquanto o petista Alexandre Padilha, que aparece em terceiro, conseguiu R$ 4 milhões. Paulo Skaf (PMDB) que está em segundo nas intenções de fotos, teve receita de R$ 10 milhões. É a prova de que o rio corre mesmo é para o mar.