
O subsídio envergonhado
Como se não merecessem o reajuste, vereadores “fugiram” depois do “sim”
Um vergonhoso espetáculo para a democracia. Símbolo da existência democrática, o parlamento sempre dá mostra de fraqueza pela ação de seus integrantes, que há tempos deixaram de merecer a confiança e o apoio da população.
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Sob protestos, vereadores aprovam reajuste de subsídios
Na terça-feira, dia 15 de julho, o parlamento de Ribeirão Preto deu mais uma colaboração para a ampliação do abismo entre Legislativo e população, representantes e representados. Os vereadores deram de ombros para manifestantes e lhes viraram as costas.
Depois de uma votação rápida e envergonhada em que aumentaram seus subsídios para a próxima legislatura, os vereadores que assinalaram sim ao projeto, praticamente fugiram pela porta dos fundos. Foram embora sem falar com ninguém
Pior. Foi uma sessão que nem parecia uma reunião parlamentar. Ninguém “parlou” (falou) aos expectadores e telespectadores do espetáculo horrível que aconteceu. Ninguém defendeu o aumento, como se não o merecesse. Ninguém o atacou, como se estivesse totalmente correto.
O ato de votar tudo correndo, sem explicações e defesas, demonstra que os vereadores acreditam piamente que não merecem o reajuste. Caso contrário iriam à tribuna discutir. Ora, se não merecem o reajuste, não são dignos do subsídio. Logo, não fazem jus a voto nenhum nas próximas eleições.
A tramitação do projeto transcorreu de uma forma covarde. Seus autores não o defenderam. Preferiram a votação quase escondida, rápida, furtiva. Ora senhores. Aparentemente, quando trabalharem melhor terão argumentos para defenderem seus próprios proventos.
Isso porque o subsídio não é ilegal e nem foi inventado pelos senhores. O reajuste também é legal. Todo trabalhador merece ter seu rendimento corrigido para se proteger da inflação, dos preços novos que sempre surgem.
Então por que a vergonha? Consideram o reajuste imoral? Ou imaginam que em um período de encolhimento econômico a classe política também deve colaborar?
Talvez as duas alternativas estejam corretas. Sob o manto da legalidade se comete muitas imoralidades. E este é sim um momento onde as vendas despencam, a produção diminui, a arrecadação pública tem queda e o desemprego cresce e apavora.
Talvez tenham escolhido o pior momento para a discussão e votação da matéria. E com isso colaboraram para ampliar o descrédito em um poder fundamental para a democracia: o Legislativo.
Às vezes há aparências de que os legisladores que assim agem, jogando contra seu próprio time, talvez torçam por uma ditadura. Mas isso não é verdade. Tomara que não seja.