
O sucessor é pior
Tomara que o adágio perca vez e importância. É difícil imaginar uma Câmara Federal pior qua a que temos
“Meu sucessor me fará melhor”. O adágio é antigo, mas sempre povoa as mentes diante dos acontecimentos. Principalmente quando a sucessão ocorre em cargos políticos, em qualquer um dos três poderes.
Pois então vejam os senhores que o ex-deputado federal Severino Cavalcanti (PP-PE) - na foto ao lado do ex-ministro José Dirceu (PT) - reaparece com pompa e circunstância em entrevista à Folha de S. Paulo e diz com todas as letras que a Câmara dos Deputados, que ele presidiu em 2005, é hoje muito pior do que em sua gestão.
E deve ser mesmo. Severino, que carrega no nome o DNA nordestino, foi acusado, à época em que presidia a Casa, de receber propina de um dono de restaurante que vendia no prédio do Legislativo federal suas refeições.
O dinheiro teria sido exigido para que o dono do restaurante permanecesse quieto em seu canto, com seus pratos e talheres à disposição de parlamentares e assessores, sem qualquer licitação que o importunasse e "prejudicasse" seus negócios alimentares.
O que pode oferecer de propina um dono de restaurante? Talvez o valor equivalente a algumas refeições. Já a propina que vem de construtoras com contratos com a Petrobrás tende a ser infinitamente maior.
Não que o valor da propina diminua a importância do crime, mas a impressão que se tem é que a forma de roubar, desviar recursos públicos vai se aperfeiçoando. Vai ganhando ares de modernidade.
E neste aperfeiçoamento, o dinheiro que deixa de ser investido em corretas obras e apropriados serviços vais se ampliando. Quem se apropria destes recursos também está mais ágil e tem melhores desculpas.
Tanto que Severino Cavalcanti, que renunciou ao mandato para não ser cassado, hoje pode posar de “menos desonesto” que o atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que teria pedido propina de US$ 5 milhões para manter contrato de uma empreiteira com a Petrobrás.
Não se pode tirar a razão de Severino. No meio de tantas denúncias, onde a percepção leva a crer que o número de inocentes é mínimo, o Legislativo foi levado a uma piora considerável nos últimos dez anos.
O ex-deputado, que não atua mais na política partidária, mesmo tendo saído da vida pública nacional pela “porta dos fundos”, agora se vê no direito de criticar a ação de políticos. De questionar ações do presidente da Câmara Federal e até propor o seu impedimento caso se confirme a denúncia de propina.
Eduardo Cunha não é exatamente o sucessor de Severino, que foi sucedido por outros presidentes, mas não há dúvida que colabora para deixar melhor (ou menos pior) a gestão do pernambucano à frente da principal Casa Legislativa do país.
Resta agora torcer para que não haja sucessores piores que Eduardo Cunha. Senão a banca não aquenta. Quebra de pronto.
Fotos: José Cruz/Agência Brasil