
Ódio mal direcionado
Não quis falar de eleições no domingo, logo após o resultado das urnas. Nem na segunda-feira, quando os ânimos ainda estavam muito exaltados. Também porque é preciso refletir um período quando o assunto desperta tanto interesse, amor e ódio.
Passado o primeiro período de opiniões raivosas (com sugestões de divisão do País) ou atos de comemoração, é possível falar com mais calma, mas não com menor ênfase, para dizer que este ódio contra uma parte do País está em direção errada.
Hoje canalizadas para uma parte da população, as críticas caberiam muito bem contra uma parte considerável de políticos. Sim, estes mesmos que por décadas vencem eleições prometendo o fim da seca para o Nordeste enquanto tomam água mineral durante seus comícios.
É muito simplista reduzir esta situação ao mandato de Dilma Rousseff (e não votei nela nem no Lula). Ou os dois de Lula da Silva. Fernando Henrique Cardoso, Itamar Franco, Collor de Mello, José Sarney e os governos militares e seus antecessores também têm culpa.
Se houvesse tempo e disposição, fácil seria chegar com a responsabilidade lá no império do tempo dos senhores de engenho.
Não se pode culpar um povo excessivamente explorado por inescrupulosos políticos e maus patrões por seus votos hoje considerados errados. Sempre brigaram por água e passaram a ganhar comida. Veja que lucro tiveram. Mas não votaram desta forma ou de outra por se sentirem comprados. Devem se sentir, até inconscientemente, coagidos.
Quem se lembra de Antônio Carlos Magalhães como uma espécie de “dono” da Bahia, ou de um Inocêncio de Oliveira liderando no Pernambuco sabe muito bem o que significa voto de cabresto, voto determinado, empurrado goela abaixo.
Mas o voto de cabresto não vem mais do patrão, dono da fazenda, que mandava (ou exigia) votar em seu apoiado. Nem do político que oferece brindes ou comida em época eleitoral.
Vem do desvio de programas sociais mal explicados, mal geridos e muito mal intencionados. São sim, os políticos que os fazem entender que recebem um favor, quando ganham uma bolsa. Ganham comida meio que pela vida inteira.
Esses políticos sem escrúpulos que exploram a inocência das pessoas mais humildes é que devem ser responsabilizados. Mais que isso, devem ser banidos da vida pública. Mas pela razão, pelo voto. Nunca pela emoção, pela violência.