Por conta das contas

Por conta das contas

A maior parte dos problemas enfrentados hoje pela Câmara tem origem na não votação das contas

Pode ser que existam outros problemas, mas o principal deles, para a situação horrível que a Câmara Municipal de Ribeirão Preto vive hoje teve início com o medo dos vereadores em votar as contas rejeitadas da prefeita Dárcy Vera (PSD).

Eles temiam que se votassem a favor da prefeita, não seriam reeleitos. Como estavam comprometidos, como mostraram as fartas gravações de telefonemas, não poderiam votar contra a chefe do Executivo, porque ela poderia “abrir a boca”, como prometeu.

Daí decidiram que enrolariam a votação até depois das eleições. Mas havia um prazo na Lei Orgânica do Município, de 180 dias, que na melhor das hipóteses venceu em 15 de junho deste ano.

Mas e daí? Como a intenção era empurrar com a barriga para ficar a encrenca para depois das eleições para que respeitar prazo de Lei Orgânica?. Ao invés disso, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), presidida pelo vereador Cícero Gomes da Silva (PMDB), decidiu que era preciso dar direito de “ampla defesa” à prefeita, mesmo depois dos 180 dias previstos.

A presidência da Mesa Diretora, representada por Walter Gomes (PTB), aquiesceu. “É preciso dar direito á defesa, ao contraditório”, falavam em plenário e pelos corredores.

E ainda deram prazo em dias úteis. Quando a defesa chegou na Câmara, vereadores disseram que era preciso a CCJ analisar a resposta da prefeita.

Mas na verdade quem cuida das contas é a Comissão de Finanças, Orçamento, Fiscalização e Controle, presidida pelo líder do governo na Casa, Genivaldo gomes (PSD). Quem se importa? O objetivo era mesmo levar as contas para depois das eleições.

E as contas ficaram para depois das eleições. E os governistas, que tanto manobraram para não ter a imagem manchada na hora de enfrentar as urnas, foram fragorosamente derrotados. Não pelas manobras, mas porque foram pilhados em negociações pouco publicáveis, em busca de dinheiro público.

Os três “Gomes” citados acima, e mais cinco vereadores que defenderam o governo municipal incondicionalmente, perderam o que mais precisavam para se manter nos seus mandatos: os votos. E, certamente, o respeito dos eleitores.

As contas não foram votadas e agora não há quórum para a apreciação. Os vereadores estão suspensos, não podem entrar na Câmara e em outras repartições. Não se reelegeram (à exceção de Capela Novas – PPS) e ainda podem enfrentar ação de cassação dos atuais mandatos, na Câmara.

Para completar, já são denunciados em uma ação criminal. A denúncia pode não ser aceita, mas nunca se sabe.

O eleitor se cansou de ver tanto desrespeito junto. Nem esperou a Justiça fazer o papel deles (eleitores) como costuma ocorrer. Respondeu nas urnas ao deboche, ao escárnio a que foi submetido por vários vereadores nos últimos quatro anos, porque estes pensavam que a Câmara era deles.

Teve até um que disse, em entrevista, que não devia satisfações a ninguém. Agora não deve mais mesmo. É só se explicar à Justiça.

Mas enfim, as contas custaram caro. Com parecer contrário a apontar a má gestão na administração pública, elas continuam custando caro aos munícipes, que sequer tem um poder Legislativo completo.

E não foi falta de aviso. Quem lê aqui estes escritos sabe dos alertas disparados com frequência.

INTENÇÃO DE PRISÃO
Pode nem ser verdade, mas contam lá na Câmara que a Operação Sevandija teve que ser precipitada justamente em função da demora na votação das contas da prefeita. As informações apontam que as autoridades pretendiam esperar a votação, com aprovação das contas, para prender todos 15 vereadores que votassem a favor da prefeita. Mas como o assunto não entrava em pauta, a saída foi o plano B que resultou na suspensão de nove vereadores.

ELEITORES ESTOMAGADOS
O vereador e presidente da Câmara de Ribeirão Preto Walter Gomes (PTB), que está suspenso de suas funções públicas desde o dia 1º de setembro, por ser investigado pela Operação Sevandija, costumava dizer em alguns de seus discursos que às vezes ficava “estomagado”. A palavra se refere a alguém que ficou indignado ou irritado. Parece que os eleitores dele também se acharam no direito de estomagar.

CONDUÇÃO PAPAL
O presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Dimas Ramalho, brincou com a vereadora Gláucia Berenice (PSDB) na quarta-feira, 5, dizendo que poderosa é ela que tem o papa como motorista. Isso porque quem chegou ao tribunal dirigindo o carro em que eles viajaram foi o vereador Marcos Papa (REDE), que confessa: gosta de dirigir.

CAIXAS LOTADAS
A suspensão das funções públicas e a apreensão dos computadores dos vereadores que não podem entrar na Câmara têm deixado lotadas as caixas de e-mail de alguns. Já não se consegue enviar e-mails para os endereços oficiais de Saulo Rodrigues (PRB), Samuel Zanferdini (PSD), Walter Gomes (PTB), Capela Novas (PPS), Giló (PTB) e Bebé (PSD).

SEM TELEFONES
Como os telefones oficiais dos suspensos foram apreendidos, os jornalistas têm dificuldades para falar com eles. É uma providência. Aparentemente o que eles menos desejam neste momento é conceder entrevistas.

FURACÃO
A vereadora Viviane Alexandre (PSC) estava com viagem marcada para Orlando, no Estados Unidos,para a quarta-feira, dia 5, onde participaria de uma convenção de uma empresa que ela e o marido representam no Brasil. Mas o furacão Matthew levou à suspensão da convenção e do voo da vereadora.

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