Por que reeleições ilimitadas?
Guto Silveira
16 Dez 2015 10:11
Da forma que está, um mesmo vereador pode presidir a Câmara a legislatura inteira. Falta oxigenação
A reeleição do vereador Walter Gomes (PR) para presidente da Câmara Municipal de Ribeirão Preto, pela segunda vez consecutiva, é um triste recado aos eleitores. O de que entre os 22 vereadores da cidade não há outro capaz de dirigir os destinos do Legislativo.
Pode até nem ser isso. Mas não deixa de ser um ponto de início de reflexão. Porque também pode ser um indicativo de que os vereadores querem ser eternamente reeleitos para mandatos consecutivos, também pelos eleitores.
Esse recado também é ruim. Imaginar que a cidade não tem pessoas melhores do que os que estão lá no prédio da avenida Jerônimo Gonçalves é, deveras, muito triste. Ainda bem que isso não é verdade. E sempre é possível mostrar o contrário.
Agora, o vereador Marcos Papa (Rede) até quer modificar isso, sugerindo, em emenda à Lei Orgânica do Município que seja apenas uma reeleição consecutiva. Mas a emenda dificilmente será aprovada, porque depende de votos de quem defende a continuidade.
Mas a eleição está chegando. Será no próximo ano. E em uma eleição é dado ao eleitor o direito de escolher. E renovar é sempre uma chance.
O ideal seria que as reeleições para o Legislativo (em seus três níveis) também fossem limitadas, como ocorre com os cargos majoritários, de prefeito, governador e presidente da República.
Porque a permanência vicia. A reeleição não permite a oxigenação das pessoas nos cargos. Atos nem sempre corretos vão se tornando práticas que podem ser maléficas ao bom andamento das gestões.
Pior que isso, revela que não há entre os vereadores, notadamente entre os que votaram pela reeleição de Walter Gomes, nenhum capaz de assumir o cargo maior da Mesa Diretora.
Então, qual o motivo de o eleitor reeleger estes vereadores que lá estão, se são incapazes de gerir a Câmara?. Melhor trocar. Até porque, com novas cabeças pensando é bastante provável que novos projetos surjam. Que novas ideias tragam melhorias para a cidade. E que o instituto da reeleição eterna para a Mesa Diretora tenha fim.
Por isso, com base na decisão de uma segunda reeleição consecutiva, o eleitor pode começar a pensar se os atuais representantes merecem o seu voto. Ou se novas pessoas terão sua confiança.
E não é difícil mudar este tipo de coisas. Basta votar diferente. Se há tantos incompetentes, por que então reconduzi-los. Melhor procurar outros. Depois, se for necessário, que se troque novamente. Os contrários à ideia que se manifestem.
LANÇAMENTO ANTECIPADO
Antes mesmo de qualquer indicação por parte de partidos ou vereadores, o vereador Marcos Papa (Rede), questionou a candidatura à reeleição do vereador Walter Gomes (PR), reeleito presidente da Câmara Municipal pela segunda vez. Walter ironizou: “quero agradecer ao vereador Marcos Papa, que lançou a minha candidatura”.
RATIFICAÇÃO
Coube ao vereador Cícero Gomes da Silva (PMDB) a missão de indicar o candidato à reeleição. Ele também não perdeu a chance de ironizar. “Quero aqui apenas ratificar a indicação do vereador Marcos Papa, que o indicou como candidato”, disse dirigindo-se da tribuna a Walter Gomes. A ironia desceu a rampa depois da sessão. Foi até ao estacionamento.
QUAL SURPRESA?
Mas não havia mesmo nenhuma surpresa. As indicações foram de praxe, para cumprir tabela. Todos já sabiam. Ao menos os 18 que votaram em Walter Gomes e nos demais candidatos vencedores. E Walter tinha tanta certeza da indicação e da eleição que levou pronto um discurso de várias páginas e de 20 minutos de duração. Também estreou novo terno e penteado de topete. Quem não viu?
TODOS ÓTIMOS
E quem ouviu atentamente o discurso de Walter Gomes ao final da apuração ficou com vontade de votar nos demais 21 vereadores no próximo ano. Ele listou, um a um, as qualidades de cada. Falou de alegria, coerência, competência e todo tipo de adjetivo que pode engrandecer qualquer um. Não é possível afirmar categoricamente que todos acreditaram.
ELE DISSE
“Esse é um novo marco. É a minha terceira reeleição consecutiva [para presidir a Câmara]”
Walter Gomes (PR), vereador e presidente da Câmara, em discurso - escrito - após sua segunda reeleição para o cargo. É preciso explicar que a primeira, em 2013, foi eleição, não reeleição.
