A prefeita, o ministro e o secretário

A prefeita, o ministro e o secretário

Falas pouco agradáveis durante audiência para discutir as obras do aeroporto

Era para ser uma reunião de trabalho a audiência pública na Comissão Permanente de Viação e Transporte da Câmara dos Deputados, presidida pelo deputado federal Baleia Rossi (PMDB-SP), que a convocou para discutir a ampliação e internacionalização do aeroporto Leite Lopes.

Mas o encontro foi além do esperado pelos presentes e por quem o assistiu ao vivo pelo canal da Comissão no portal da Câmara. Os vídeos podem ainda ser vistos no canal onde ocorreu a transmissão ao vivo.

Em determinado momento, quando de seu discurso, a prefeita Dárcy Vera (PSD), como é de seu costume, fez forte cobrança pela realização rápida das obras do aeroporto, que serão feitas pelos governos federal, estadual e municipal. Com fundamento. Há quase 20 anos se discute a ampliação do aeródromo.

Foi uma fala forte, provocativa, em direção ao ministro da secretaria da Aviação Civil, Eliseu Padilha, e ao secretário estadual de Logística e Transporte, Duarte Nogueira. Que, claro, responderam à altura. Seguem algumas frases para transmitir parte do que foi a discussão.

“Ribeirão Preto pode exportar. Pode. Mas pode exportar pequenininho, aquelas caixinhas pequenininhas, porque o resto vem de Santos, em container. Aquelas caixinhas pequenininhas representam 7%”. Prefeita Dárcy Vera.

“A senhora falou que a competição do aeroporto (de Ribeirão Preto) era o porto de Santos. O container do porto de Santos... As mercadorias que são transportadas pelos portos, são mercadorias que têm tempo maior para chegar no mercado. São mercadorias que tem o frete, se for levado por outro meio de transporte, mais caro, porque é decorrência da tonelagem. O transporte mais barato que existe é o hídrico...Portanto, o competidor do aeroporto de Ribeirão Preto, me desculpe a senhora, mas não é o porto de Santos. É Viracopos e é Guarulhos”. Ministro Eliseu Padilha.

“Se o problema é político temos duas alternativas aí: ou cumpre o calendário ou passa (o aeroporto) para o município. E uma terceira proposta que eu quero fazer aqui para encerrar. Poderíamos sair daqui hoje com um documento assinado, registrado em cartório, do ministro da Aviação Civil, do secretário de Transportes Duarte Nogueira, e meu, que Ribeirão Preto também participa desta questão aí... Assinaríamos um documento aqui, protocolaríamos em cartório que até o final de 2016 vocês entregam a pista, por respeito aos empresários de Ribeirão Preto e região”. Prefeita Dárcy Vera.

“Não vou assinar documento nenhum aqui porque não depende de mim o Orçamento da União e a liberação. Eu tenho projeto, tenho compromisso, mas não depende de mim. Mas posso assinar sim a delegação a liberação do aeroporto para que a senhora faça os investimentos de R$ 500 milhões  que é preciso fazer lá”. Ministro Eliseu Padilha.

“Há uma questão muito racional sobre essa questão de assinar documento em cartório, prometendo coisas em cima de determinados prazos. Porque nós não somos pessoas jurídicas neste momento. Nós somos pessoas físicas. Os nossos cargos são transitórios. São de livre nomeação. Se amanhã o ministro sai ou eu saio, como nós vamos cumprir esse compromisso? Então acho que a gente precisa, não é mudar a política ou a administração pública. Nem mudar as pessoas, nós temos que mudar os valores. Mudar as formas de fazer as coisas na administração pública”. Secretário Duarte Nogueira.

Teve mais. Muito mais. Dárcy disse que não houve novidades entre uma reunião de outubro com a de novembro. Nogueira rebateu e assegurou que houve, sim, mudanças.

Sobre a pressa em resolver, Padilha ainda se saiu com a seguinte fala: “Não conheço muito bem quais foram as suas metas no município, nem seu plano de governo, mas desejo que a senhora tenha conseguido cumprir 100%”, disse, lembrando que já foi prefeito e que sabe que nem sempre é possível cumprir tudo que se planeja.

Também houve certa rispidez quando Dárcy tentou entrar na fala do ministro. “A senhora falou eu lhe ouvi, agora a senhora vai me ouvir, depois a senhora faz suas considerações”, disse Padilha.

Depois ela tentou também “apartar” Duarte Nogueira. “Estou com a palavra”, disse o secretário. “Palavra garantida”, assegurou Baleia Rossi na presidência da audiência.

No final, a prefeita até contemporizou. Disse que fez a provocação para sentir a reação do ministro e do secretário. Não se sabe ainda se eles acreditaram na justificativa.

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