A prefeita, a oposição e os R$ 300 milhões

A prefeita, a oposição e os R$ 300 milhões

Obras de mobilidade do PAC vira disputa política pesada, com segunda licitação suspensa

Não há condescendência. A luta política é séria e, na maioria das vezes, não é para amadores. Desde a aprovação do empréstimo para as obras de mobilidade urbana em Ribeirão Preto há uma luta séria que se desenha e que desaguou em uma conversa ríspida, em público, com trocas de acusação de lado a lado.

Com a conquista dos recursos e o poder de decisão, a prefeita tenta pela segunda vez fazer a licitação, já que a primeira foi barrada pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) por suspeitas de irregularidades. Na oposição, um grupo de vereadores voltou a levantar suspeitas de irregularidades e exigir correção. Não houve. Melhor, houve uma correção.

Desta feita a prefeita resolveu assumir os riscos. E até escrever que a decisão é dela e é ela quem responde por seus atos administrativos. Está certa. Se cometer erros é ela quem pagará. Criminalmente, inclusive, se for o caso. Mas a oposição também tem razão de exigir uma licitação correta, que não corra riscos de ser interrompida. Desde, é claro, que a tentativa não seja apenas um avanço eleitoral para travar as obras e obter dividendos.

E foi nesse clima de calor político que aconteceu uma reunião no Palácio Rio Branco, no final da tarde de segunda-feira, dia 24. Ocorreram declarações fortes de parte a parte. Ameaças nem tão veladas até.

“Se essa obra for interrompida, eu quero deixar claro a Ribeirão Preto, e vou repetir em todos os horários eleitorais de televisão, porque que esta obra não foi viável. Porque que fiz, eu consegui, eu cumpri com o bairro eu consegui o programa de mobilidade urbana”, disse a prefeita para uma plateia que incluiu jornalistas e 19 dos 22 vereadores.

“Não sou candidata a nada. Sou candidata a terminar estas obras e meu partido de chama Ribeirão Preto. Se estas obras não saírem eu lavo as minhas mãos, mas darei nomes de quem impediu R$ 300 milhões para Ribeirão Preto. Para a cidade, não para mim”, discursou Dárcy.

Obteve um resultado parcial. Pelo menos seis dos sete vereadores desistiram de entrar com representação no TCE. Apenas Marcos Papa o fez, com o argumento de que fiscaliza e quer uma licitação sem erros e transparente. Os demais assumiram o discurso de que a cidade precisa das obras.

Como a representação não precisa de sete, ela seguiu para o TCE, numa luta política que pode provocar, de imediato, perdas à cidade. Porque, liminarmente, o Tribunal suspendeu a licitação. E muito provavelmente o prejuízo pode ser definitivo, caso o governo federal desista de liberar os recursos em função da demora na licitação.

Caso isso ocorra, a sequência da disputa é o que a maioria já sabe. Dárcy fará o discurso de lutadora que foi atrapalhada e Papa fará o discurso de político sério que quer preservar os recursos públicos. Mas não se sabe se haverá vencedores ou derrotados. A população – pelo menos parte dela – perderá.

CONVERSA TENSA

Aliás a tensão que estava na Prefeitura, durante a reunião, se seguiu no dia seguinte. Um assessor do vereador Marcos Papa teve uma conversa, por telefone, educada, mas pouco afável com o presidente da Associação de Moradores do Ribeirão Verde, Francisco Alcântara. Quem ouviu a conversa relata que o assessor teve muita dificuldade em contornar a conversa. Ao dizer que o interlocutor não havia entendido, deve ter ouvido que o havia chamado de burro. Daí para mais.

SÓ BÊBADO?

Presidente de Botafogo e Comercial foram à Câmara Municipal pedir que vereadores aprovem um projeto de lei que permita a venda de cervejas nos estádios, durante as partidas, já que os torcedores bebem nas proximidades do campo. Um funcionário da Câmara não perdeu a chance. “Com esses times jogando é melhor não estar sóbrio para assistir”, tascou. Não informou, claro, qual dos clubes está em seu coração.

VONTADE PRÓPRIA

O engenheiro Ivo Colichio Júnior, ex-diretor técnico do Daerp esteve na Câmara Municipal para prestar depoimento sobre medições do trabalho de tapa-buracos feito pelo departamento. Deu as explicações solicitadas e fez questão de afirmar que ali esteve por livre e espontânea vontade, já que não está mais no cargo. A convocação foi feita pelo vereador Paulo Modas (Pros).

PESCARIA

Ivo, aliás, mostrou o que fazia nos dias anteriores ao depoimento. Antes de a sessão começar, exibiu uma foto onde aparece pescando. Coisa mesmo de aposentado. Mas não reclamou. Disse estar sempre disposto a prestar esclarecimentos não apenas aos vereadores, mas à população.

ELE DISSE
“Em qualquer fórum, para qualquer discussão, estou disposto a discutir pelo bem da nossa cidade. E se há dúvidas é preciso investigar e colocar os pingos nos is”
Ivo Colichio Júnior, engenheiro e ex-diretor técnico do Daerp, em depoimento na Câmara Municipal

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