
A (quase) primeira morte
De cenário a Central de Flagrantes da Polícia Civil, na rua Duque de Caxias, no Centro. De protagonistas um pai e uma mãe, auxiliados por amigos e vizinhos. Na cena principal também um policial militar a conversar com os pais.
Jornalistas, interessados em outro caso, do desaparecimento e morte do menino Joaquim Ponte Marques, outros policiais civis e militares compunham o restante da cena, sem dela participar, claro.
Mas o que chamou mais atenção mesmo foi o choro da mãe. Pelo menos dois jornalistas se interessaram pelo fato. Pelas lágrimas da mãe desesperada. Por educação ou respeito, ninguém se aproximou em demasia dos personagens ou perguntou o que houve.
Sabe-se que a filha da mulher, uma adolescente ainda sem 18 anos completos, foi presa em flagrante. Não aparecia nos locais públicos da delegacia. Só depois foi vista em uma pequena sala. Algemada.
A mãe, em desespero, parecia participar do velório de algum parente próximo. Apelava ao policial como se apela a algum médico em momentos de doença terminal ou acidente grave.
Em lágrimas ela perguntava ao policial para onde a filha iria e o que poderia fazer. Ele respondeu que ela iria para um centro de reeducação da região e orientou os familiares a procurarem um advogado para pedir a revogação da prisão. “Ela é primária, não será difícil”, disse.
Mas como haver consolo para uma mãe em uma situação dessas. O choro continuou. Chegaram mais parentes, apareceram amigos. Muitas conversas ao celular. Os demais não choravam, mas a aparência triste era mais que visível.
Foram mais de duas horas até a chegada do advogado. Ele acalmou os ânimos sem conseguir reduzir a tristeza da mãe, que se desmanchava em lágrimas que corriam pelo rosto sofrido de quem aparenta sempre mais de dez anos que a idade real.
E porque você está lendo esta história aqui? Um fato que não ganhou uma linha de jornal ou alguns segundos no rádio ou na TV? Porque está além da hora de uma discussão mais séria sobre a criminalidade que assola principalmente jovens.
Não importa o motivo do flagrante em que a menina ainda menor foi pega. Pode ser furto, roubo ou tráfico. De alguma forma o crime pode estar ligado ao vício, à dependência de entorpecentes.
Por isso as autoridades precisam agir mais no combate deste mal que tem ramificações escandalosas na sociedade e é responsável por tantos outros crimes. Já passou da hora de conversas. É urgente a ação.