
Quase um grito
Recado sobre os riscos de epidemia de dengue está dado, aparentemente com o objetivo de reduzir seus efeitos
O secretário da Saúde de Ribeirão Preto, Stênio Miranda, não é homem de alterar a voz. Nas diversas situações enfrentadas, até fala com contundência, sem ampliar o volume. E consegue se comunicar com a precisão necessária, mesmo diante de tantos problemas enfrentados por sua Secretaria.
Foi mais uma vez assim na sexta-feira, 15, quando falou da possibilidade da pior epidemia de dengue da cidade, desde que a doença surgiu, no início da década de 1990, quando ocorreram os primeiros registros na cidade. Mas mesmo em tom natural, a fala preocupou. E muito.
A previsão de se chegar a 60 mil casos até junho, embora dita de forma aparentemente calma e equilibrada, soa quase como um grito. Um alerta forte para quem quer entender o que significa uma epidemia de dengue destas proporções.
Não se sabe se o secretário Stênio Miranda, ao ir triplicando números de casos para chegar à sua previsão, acredita piamente no que disse, a respeito do volume. Também não se sabe se ele julgou a situação irreversível e sem possibilidade qualquer ajuste.
O que é possível ler nas declarações dele é que foi um anúncio feito com o claro objetivo de um recado às pessoas. Assim como a dizer: “a situação é séria e precisamos da ajuda de todos para não chegarmos a este número”.
Mesmo que não tenha tido a intenção de dizer isto, para muitas pessoas soou assim. E é bom que assim seja. Que as pessoas possam se sentir na obrigação de ajudar a evitar uma epidemia de resultados catastróficos.
Isso porque a cidade, por mais recursos que consiga arrecadar para o combate à doença, não terá a estrutura necessária para resolver tudo. Além de precisar retirar dinheiro de outros programas e serviços.
Assim, o melhor a fazer neste momento de risco de epidemia é prevenir. É buscar reduzir ao máximo o número de criadouros. É a única forma de se evitar a concretização da epidemia anunciada, porque 10 mil casos de dengue em seis meses já é difícil suportar, imagine 60 mil?
A população tem neste momento a oportunidade de desmentir a previsão do secretário. E são muitos que devem ter este desejo no momento. Porque quem já teve a doença sabe que vale a pena evitar a epidemia.
Por isso você está convidado a ajudar no combate. Mudar o rumo desta história. Mesmo que seja apenas para provar que a previsão do secretário está errada e que a grande epidemia não acontecerá.
VALOR SIMBÓLICO
O anuncio de corte de verbas do carnaval de rua para ajudar no combate à dengue foi de um grande simbolismo. O secretário da Saúde, Stênio Miranda, disse que deve precisar, em recursos extras, de R$ 15 milhões a R$ 20 milhões. O secretário da Cultura, Alessandro Maraca, falou em destinar R$ 300 mil, verba prevista em orçamento para o carnaval. O valor é cerca de 2% do previsto. Mas vale a intenção, a força da divulgação do fato.
UM TERÇO
A soma de todos os valores disponibilizados à realização do carnaval nos últimos sete anos, desde 2009, chega a R$ 5,743 milhões, ou cerca de um terço da verba extra estimada para o combate à epidemia. Nos dois últimos anos, sem desfiles na avenida, os valores ficaram em R$ 252 mil em 2014 e R$ 289 mil em 2015.
PLANTA DE VALORES
A empresa Aerocarta S/A Engenharia de Aerolevantamentos foi a vencedora da licitação para a realização de serviços técnicos especializados de engenharia cartográfica, visando ao levantamento aerofotogramétrico, perfilhamento a laser, recadastramento imobiliário urbano e planta de valores genéricos de terreno da zona rural de Ribeirão Preto. O trabalho, que deve resultar em reajuste de valores venais de imóveis, custara R$ 9,25 milhões.
REVISÃO
Em 2009, a mesma empresa foi contratada para elaborar a atualização da planta de valores genéricos da área urbana de Ribeirão Preto. O trabalho da época, apenas na zona urbana, custou bem menos, R$ 119 mil, mas o resultado foi devastador no bolso dos contribuintes, que reclamaram ruidosamente dos valores do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), com direito e protestos e fila para protocolar reclamações.
ELE DISSE
“Temos um desafio gigantesco pela frente, mas nunca estivemos tão organizados como agora”
Stênio Miranda, secretário municipal da Saúde de Ribeirão Preto, a respeito do grande número de casos de dengue que a cidade deve registrar até meados de 2016, mas com união nunca vista dos municípios da região no combate à doença