Quem tem medo do povo?

Quem tem medo do povo?

Certa vez, o então governador paulista Mário Covas (1930-2001) sofria intensa vaia de professores em greve. Um repórter se aproximou e perguntou a ele se as vaias o incomodavam. “Político recebe vaias. Se não quisesse ser vaiado, seria padre. Você já viu alguém vaiar padre?”, foi a resposta/pergunta do político.

Talvez seja essa uma resposta oportuna ao presidente da Câmara Municipal de Ribeirão Preto, Walter Gomes (PR), ao sugerir em um programa semanal da TV oficial do Legislativo (logo, paga com dinheiro do contribuinte), que é preciso aumentar a segurança do prédio.

E não é segurança para barrar bandidos, ladrões ou que tais. É para barrar manifestantes enfurecidos. Destes que podem jogar ovos, garrafas de água, bombas e sinalizadores no plenário, como ocorreu em dezembro durante uma sessão extraordinária.

É claro que não se aprova este tipo de manifestação, com violência. O debate deve ocorrer com ideias, discussões e, se preciso, manifestações pacíficas, onde as discordâncias possam ser colocadas. Mas naquela ocasião, bolsas e pertences foram vistoriados na entrada do prédio. Com, claro, falhas na segurança.

E o embate tomou as proporções verificadas em função de uma situação muito clara. Os vereadores teimaram em não ouvir as vozes que vinham do plenário, mais preocupados em defender o Executivo do que parte dos eleitores que os elegeram.

Fizeram-se de surdos e pagaram por isso. Mas na sessão seguinte os protestos foram mais amenos. Isso prova que a fúria, no memento do ataque foi algo incontido.

Não é por isso, entretanto, que é preciso barrar o povo na única casa política a que ele tem acesso. Implantar segurança é plausível. Os objetivos, no entanto, precisam ser claros. O poder estatal, financiado pelo contribuinte, não pode contra ele se voltar.

E também porque já passou da hora de os políticos entenderem que são pessoas públicas. E como tais, estão sujeitos a vaias e aplausos, críticas e elogios. Político que não sabe suportar opiniões contrárias (mesmo quando são manifestações gritadas) deve buscar refúgio em trabalho privado.

E antes que passe desapercebido, a TV Câmara bem poderá ser melhor utilizada para educar, ensinar, informar. Não apenas a lição oficial de quem quer passar uma visão singular, sem o direito do contraditório.

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