
Sobre privatizações e concessões
É preciso voltar ao assunto para algumas considerações e para afirmar que pior que concessão é o desabastecimento
Pois então. O superintendente do Daerp, Marco Antônio do Santos, assegurou que não haverá privatização da autarquia, pelo menos neste governo que encerra seus trabalhos no final do ano. Nem faria sentido, disse ele, tal ação em último ano de mandato. A garantia foi dada em audiência pública com a presença de funcionários da autarquia.
Mas deixou claro que concessões não estão descartadas. Os servidores espernearam, com razão, sob o risco de desemprego. Estão corretos em defender seus postos de trabalho, que existirão também em caso de alguma concessão.
Sem ser extremamente privatista, é preciso levar em consideração pontos defendidos pelo superintendente. Pode se evitar ao extremo a concessão de serviços do Daerp. Mas não se perdoará o desabastecimento em nome de um poder estatal imexível.
Ele citou que pode ser necessário buscar o abastecimento por meio de água do rio Pardo, com exigência de investimentos para os quais o Daerp não possui recursos. Pronto, está aberta a discussão para a concessão. Com previsão em artigo do Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB).
Porque nenhum bom gestor em sã consciência pode chegar ao extremo de deixar faltar água a toda uma população em nome da manutenção de empregos e salários. Nem seria ético sacrificar a todos em nome de alguns.
E de mais a mais, é necessário ainda lembrar alguns fatos. Muito provavelmente que a maioria das estradas concedidas no estado de São Paulo hoje duplicadas não teria esta condição sob a gestão do governo. Os investimentos sempre sumiriam para outros lados, mesmo com a cobrança de pedágios escorchantes.
É também difícil afirmar que Ribeirão Preto teria conseguido a construção do trevão da rotatória Waldo Silveira, na zona Leste, com recursos do governo estadual. Até poderia, mas não se destina mais de R$ 120 milhões a uma obra viária com frequência. E as estradas continuam “propriedade do povo”.
Da mesma forma, quem se arrisca a dizer que Ribeirão Preto teria tratamento de esgoto se o serviço estivesse nas mãos do Daerp? Não é fácil fazer tal afirmação. Não por falta de vontade ou competência de gestores e funcionários, mas por insuficiência de recursos.
Basta dizer que a cidade tem centenas de vazamentos de água não resolvidos. Há locais onde qualquer chuva, por menor que seja, cria chafarizes de esgoto. O problema está em várias partes da cidade. E cadê a solução do Daerp?
Então. Se a autarquia encontra dificuldade para sanar vazamentos de esgoto que atormenta moradores, dificilmente resolverá sozinha um problema de captação de água. Logo, neste caso, a concessão – não a privatização, claro – parece ser uma das poucas alternativas.
SEM QUÓRUM
A discussão em torno do Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB), que levou dezenas de servidores do Daerp à Câmara Municipal, não despertou a mesma atenção nos vereadores. Se fosse uma sessão, não poderia ser aberta por falta de quórum. E olha que o projeto nem foi votado porque os vereadores defendem maior discussão, em função de sua complexidade.
SEIS INTEGRANTES
Além do vereador André Luiz da Silva (PCdoB), que presidiu a discussão, outros cinco, Gláucia Berenice (PSDB), Paulo Modas (Pros), Ricardo Silva (PDT), Rodrigo Simões (PP) e Walter Gomes (PR) participaram do encontro. Bertinho Scandiuzzi (PSDB) até esteve na Câmara, mas foi embora antes do início dos trabalhos.
DE BONÉ
Rodrigo Simões, apesar de a reunião ser noturna, estava com um boné na cabeça. Ele explicou que estava com o “acessório” por ter passado por uma pequena cirurgia, e pediu licença ao presidente da Casa, Walter Gomes, para permanecer de boné durante a reunião.
AQUÍFERO
Como não poderia deixar de ser, o aquífero Guarani foi citado mais de uma vez no encontro. Disseram que ele pode perder a força e não ser suficiente para o abastecimento da cidade. Também foi dito que sua capacidade é infinita e que a água nunca acabará. Diante da situação, o engenheiro Cantídio Maganini, representando o Fórum das Entidades de Ribeirão Preto (Ferp), afirmou que não há um estudo que aponte com clareza a situação do aquífero e que só agora tal levantamento começa a ser feito.
NOVA CONTENÇÃO
A prefeita Dárcy Vera (PSD) volta a pedir a secretários que façam economia de recursos neste 2016. A medida chega para tentar reduzir gastos em um momento que a arrecadação sofre queda em função da crise econômica. Em outras ocasiões, a prefeita chegou a conceder entrevista coletiva, a anunciar cortes e até a realizar a fusão de secretarias, o que não ocorreu, apesar da grande visibilidade dos anúncios feitos. É difícil prever melhor sorte agora.
Foto: Viviane Mendes/Câmara Municipal