Tudo bem escondidinho

Tudo bem escondidinho

Esconder os problemas costuma ser mais fácil que tentar resolvê-los

Ao decretar que servidores das áreas de Saúde e Educação deixem de utilizar aparelhos eletrônicos que acessem redes sociais, a prefeita Dárcy Vera (PSD) quis, claro, criar regras de trabalho. E cabe a ela e agentes de seu governo criarem regras administrativas. Não está de todo errada.

Ao definir que profissionais de comunicação não tenham acesso, sem autorização, a áreas das unidades de saúde, fez a mesma coisa: criou regras. Não está de todo errada. Mas há excessos. E com objetivos outros.

Permitir ou não o uso de aparelhos eletrônicos é uma medida de gestão. Com gestão correta, com lideranças determinando com clareza o quem é ou não permitido já bastaria. Não haveria necessidade de decreto.

Quanto à permanência de profissionais de comunicação em áreas de atendimento de pacientes pode sim, atrapalhar o trabalho de profissionais de saúde. Mas nenhum profissional insistirá em se manter em um local, quando convidado a sair. Então, novamente, houve excesso.

Quando informa que a utilização de aparelhos eletrônicos atrapalha o trabalho, a Prefeitura confessa sua incapacidade de liderança sobre os servidores. Sua dificuldade de mostrar aos trabalhadores que é preciso bom senso e parcimônia na utilização dos equipamentos.

Ao informar que a proibição da imprensa em um espaço onde há dezenas de pessoas à espera de atendimento não quer respeitar o paciente. Quer mesmo é esconder situações que poderiam ser mostradas.

Porque respeito ao paciente seria atender com rapidez e efetividade. Caso o atendimento fosse bom e elogiável, certamente a imprensa poderia permanecer o dia todo no local, que acabaria elogiando o serviço.

Mas é prática de governos buscarem esconder seus problemas, ao invés de resolvê-los. Não é uma exclusividade do governo municipal de Ribeirão Preto. Há problemas em outras cidades e nos governos estaduais e federal.

Mas aqui tem uma prática bem incomum. A de disponibilizar a edição do Diário Oficial do Município apenas por volta das 18h, quando todos os demais jornais oficiais (do Estado, União, Justiça Eleitoral, Justiça Eletrônica) entram no ar pela madrugada.

A demora em disponibilizar a edição do dia tem o claro objetivo de dificultar o trabalho de quem acompanha atos da Administração Municipal pela divulgação oficial.

Essa prática, sim, foi criada por este governo que ora ocupa o Palácio Rio Branco. Certamente incomodado pelos questionamentos da imprensa, agora proibida de trabalhar nas dependências das unidades de saúde.

PREGÃO ESCONDIDO
E por falar em coisas escondidas, a Prefeitura de Ribeirão Preto publicou no Diário Oficial uma licitação para aquisição de achocolatado por até R$ 2,1 milhões. O pregão eletrônico para o registro de preços é o 020/2016, que não está divulgado ainda na página de licitações da Prefeitura, que tem apenas até o 019. Assim é impossível saber a quantidade a ser adquirida com os mais de R$ 2 milhões. Esta, no entanto, deve ser apenas uma falha de atualização.

TAMBÉM NA CÂMARA
A Câmara Municipal de Ribeirão Preto também não costuma prezar muito pela transparência. Melhorou bastante nos últimos anos, mas ainda há vícios. Alguns projetos mais polêmicos costumam não ficar disponíveis e a pauta de projetos a serem votados só costuma ser divulgada nos últimos minutos de expediente da Casa, na véspera da sessão ordinária. É coisa de gente que ainda não percebeu as mudanças democráticas. Talvez seja o caso de mudança das pessoas.

VETOS
Na pauta de hoje da sessão da Câmara Municipal estão três vetos da prefeita Dárcy Vera (PSD) a projeto dos vereadores Beto Cangussú (PT) e Maurício Gasparini (PSDB). O projeto do petista que foi aprovado prevê o reaproveitamento de alimentos não consumidos no município, para serem destinadas a famílias carentes. Já as duas leis de iniciativa do tucano dizem respeito a comércio de rua: food trucks e feiras comerciais.

ÁGUA FRIA
Escaldados com o número de leis consideradas inconstitucionais pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) – foram 16 no ano passado -, os vereadores não devem mais derrubar vetos vindos do Executivo. A não ser que a possibilidade de disputa judicial seja ao menos equilibrada. Não querem repetir o título conquistado em 2006: de campeões de leis inconstitucionais do País. Naquele ano, foram 127 as leis julgadas “ilegais”.

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