
Um descaso histórico
Queda de parte do forro do museu histórico foi um aviso mais barulhento. Mais um alerta do abandono
“Não foi por causa da chuva e sim pela falta de atenção e dedicação aos museus. Venho avisando, implorando e pedindo durante 7 anos sobre o caso e nunca fui atendido”. O desabafo é do diretor dos museus Histórico e do Café, Daniel Basso, após a queda de parte do forro de uma das salas do Museu Histórico, na madrugada de sábado.
Aliás, a entrevista do diretor mostra bem o estado de abandono com o patrimônio histórico ali representado. Ele afirmou, sem se preocupar com o risco de demissão – já que é nomeado em cargo em comissão – que falta praticamente tudo. O número de funcionários, por exemplo, é a metade de sete anos atrás. Mas ele diz que prefere a demissão a ser responsabilizado por algum acidente mais grave.
De acordo com o diretor, não há destinação de verbas para os museus. Que cabe a ele próprio e aos poucos funcionários trabalhos braçais como poda de grama, troca de telhas dos prédios, limpeza da área externa etc. Diz até que uma pequena reforma feita na gestão da ex-secretária da cultura Adriana Silva só foi possível com recursos de patrocinadores.
Quem viu o estado dos museus no último sábado conseguiu enxergar que há um abandono histórico. Pode nem ser obra da atual administração, mas chegou ao limite com a atual gestão municipal. E não foi por falta de alertas. Eles ocorreram em vários momentos, notadamente no ano passado e neste.
A queda de parte do forro, sobre um piano de mais de 140 anos e de um órgão com quase 100 anos e que foi o primeiro instrumento a ser utilizado na Catedral Metropolitana de São Sebastião. A queda pode ser, então, decisiva para que o poder público possa ouvir, enxergar.
Isso porque não conseguiu ouvir os avisos anteriores, aparentemente. Desde o ano passado, por exemplo, uma Comissão Especial de Estudos (CEE) da Câmara Municipal, presidida pelo vereador Rodrigo Simões (sem partido), vem falando sobre o assunto, com repercussão na imprensa.
A falta de verbas ficou explícita em depoimento do secretário da Cultura, Alessandro Maraca à CEE. Com orçamento pela metade, ele chegou a pedir ajuda aos vereadores para resolver os problemas dos museus.
Uma questão de prioridade que não chegou a ser vista pela Administração Municipal. A exposição da situação, mesmo que simbólica é o resultado desta falta de planejamento e de interesse em manter o patrimônio público.
CONTRATO
Na quinta-feira, 3, dois dias antes da queda de parte do forro do museu, a Prefeitura publicou a contratação emergencial de uma empresa para os reparos nos museus, por R$ 25 mil. Não há coincidência entre a contratação e o incidente. Há um atraso grande na decisão pelos reparos.
DESPEDIDA
Em meio a esta situação, o secretário da Cultura, Alessandro Maraca, faz despedida do cargo pelo Facebook antes mesmo de ter sua exoneração publicada ou anunciada pela prefeita Dárcy Vera (PSD). A postagem é do sábado, 5, menos de 24 horas depois da queda do forro. Mas há informações de que a festa de despedida ocorreu mesmo na segunda-feira, 29. Falta apenas a oficialização da saída, que já vinha sendo planejada, para que Maraca dispute a eleição para vereador.
DUPLICAÇÃO
A licitação para a duplicação da avenida Antônia Mugnatto Marincek, na zona Leste de Ribeirão Preto, com valor de R$ 35,9 milhões, foi publicada no Diário Oficial do Município na quinta-feira, 3, mas o edital da concorrência ainda não aparece no portal oficial da Prefeitura nesta segunda-feira, 7. Não é a primeira vez que tal fato ocorre. E é no edital que estão informações mais detalhadas do processo.
Foto: Guto Silveira