Chique no último

Chique no último

Chique quer dizer elegante, esmerado e outras coisas bonitas de se ver e notar. Chico quer dizer porco, de onde vem chiqueiro. Desculpem-me os Franciscos, mas está na no Aurélio, que entende de porcos e de burros e separa as duas palavras por alguns verbetes. Já a realidade e alguns incautos quase não sabem separá-los, incorrendo em verdadeiros desastres estéticos. Na ausência da Glorinha Kalil, que sendo chique deve adorar uma pururuca - devorada com a ponta dos dedos - dou-me a esta faina no mister de esclarecer o que deve ou não ser feito ou usado em público. Ou, pelo menos, que tenham a decência de não perpetrar na minha presença.

Hoje versaremos sobre como se comportar no restaurante. São regras simples, porém indispensáveis à boa digestão dos presentes e à conservação de seus dentes. Inicialmente, sugiro ao nobre leitor, principalmente aos não educados na Sourbonne que, ao freqüentarem refinados restaurantes que vendem comida a quilo, não coloquem os cotovelos sobre a mesa. Melhor ainda será não colocar os mesmos cotovelos na barriga e no pescoço dos demais comensais quanto estiverem na fila. Salvo no final do horário de serviço, geralmente há alimento para todos, portanto sendo plenamente civilizado deixar a selvageria para o ataque ao bife. Também não sucumba ao ímpeto da "recapitulação geral", que é aquela mania de percorrer com a língua os trinta e dois dentes (quem os tiver ainda, claro) à procura de restos triturados. No caso de fiapos de carne presos entre os dentes, não caia na tentação de puxá-los suavemente com uma pinça formada pelo polegar com o indicador. É feio, para dizer o mínimo. É nojento, para ser preciso! Como safar-se dessa então? A primeira opção é pedir licença, ir ao banheiro e usar o fio dental. A segunda opção não existe no meu caderninho, pois se você sacar um palito de dentes e começar a futucar o naco, dará aos demais plenos poderes para enfiar todos os outros palitos em seus olhos. Caso insista, cito a indefectível Danusa Leão, que recomenda que você faça-o em casa, no banheiro, com a luz apagada. Ah, claro! Já ia me esquecendo: nunca, jamais e em tempo algum converse, tussa, pigarreie, escarre ou espirre junto à pista, seja ela quente ou fria. Guarde a generosidade de seus perdigotos para quando for beijar um sapo.

Outra dica: no rodízio da churrascaria, não encha a boca de picanha, maminha ou qualquer bocado de natureza animal. Vá com calma, afinal a carne não vai fugir, por mais malpassada que esteja. Além do mais, lembre-se de que os garçons passarão pela sua mesa outras vezes e, a menos que você não consiga se desgrudar de um gaúcho, basta esperar pelo próximo espeto.

Aos domingos, quando as famílias se reúnem à mesa farta, controle as crianças. Conscientize-se de que, se os demais convivas não puderam compartilhar do prazer de produzi-las, não há razão para agora serem obrigados a suportar seus gritos. E a tarefa de calar os petizes não é tão difícil assim. Os pequenos adoram batata. Soque uma delas, das grandes, na boquinha do guri e estaremos todos em paz e harmonia.

Por fim, em resumo, esqueça as boas-vindas dos garçons para que você se sinta como se estivesse em sua própria casa. Definitivamente você não está e, por este motivo, dê aos demais a oportunidade de alimenta-se sem o ônus de sua educação.  Tenha modos. Ou tente um disque pizza! 

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