A pequena farsa da "Obesidade Mental"

A pequena farsa da "Obesidade Mental"

Faz algum tempo ouvi o termo “obesidade mental” e me estranhei com ele. Fiz algumas buscas e descobri várias citações em relação a Andrew Oitke, mas curiosamente não conseguia encontrar referências sólidas. Um desses labirintos da internet.

Encontrei um livro digital com este nome e corri os olhos por ele. Nada de muito novo ou intrigante, apesar de disparar algumas reflexões interessantes. Fala de excesso de informações de baixa qualidade, e as compara à ingestão de guloseimas fáceis e viciantes ao paladar, mas que produzem efeitos negativos no corpo. No final o autor sentencia: “precisamos de dieta informacional”.

O leitor atento deve ter percebido que foi possível explicar o conceito de “obesidade mental” em, digamos, três ou quatro linhas. Não que eu tenha sido excessivamente suscinto, não. É que o conceito é só isso mesmo. Pode ter um ou dois desdobramentos, mas não vai muito longe.

Isso nos leva a uma primeira conclusão: o próprio conceito recai naquilo que ele acusa, uma informação rasa, rápida, doce, e que no final das contas se compara muito mais uma caixa de chocolates que a uma refeição equilibrada com fibras, proteínas, carboidratos etc.

Uma segunda conclusão é possível: até o campo da reflexão crítica está mergulhado na dinâmica do marketing. Não vejo outra explicação para um conceito polêmico, raso e “lacrador” como esse.

Sem falar que o termo é gordofóbico, o que abre uma janela imensa de discussões (que não vou tratar aqui), o que me toca discutir aqui é o imperativo da facilidade e da imediatez que invade até mesmo o universo da reflexão social e filosófica. Estes atalhos intelectuais não fazem mais do que nos conduzir por ciladas reflexivas. Se quisermos pensar estes temas com profundidade, nada melhor do que sentar a bunda na cadeira e ler Jean Baudrillard, Manuel Castells, Vilém Flusser, Jean-François Lyotard e outros. Mas certamente ninguém mais terá paciência com você na roda de conversa de bar, lá eles preferirão continuar com as balinhas e os chocolatinhos intelectuais.

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