AMPELOGRAFIA: CIÊNCIA E ARTE NAS VINHAS

AMPELOGRAFIA: CIÊNCIA E ARTE NAS VINHAS

O cultivo de variedades de uvas viníferas (Vitis vinífera) com a precípua finalidade de produzir vinhos de alta qualidade é muito mais complexo do que podemos imaginar. Na grande maioria das ocasiões, as diversas etapas pelas quais a uva passa antes de se transformar em vinho são desconhecidas na hora de apreciar e harmonizar a bebida com os mais diferentes tipos e variedades de alimentos. Um capítulo que não pode faltar na biblioteca dos nossos conhecimentos é o ramo da botânica denominado Ampelografia, termo que vem do grego “ampelos”, para videira, e “graphe” para a descrição. 

A Ampelografia ganhou grande importância na segunda metade do século XIX, quando os parasitas das raízes de videiras trazidas da América do Norte para a Europa, infestadas de Philloxera, praticamente dizimaram uma enorme área cultivada no Velho Continente. Graças ao estudo ampelográfico das videiras, foi possível identificar as plantas mais resistentes à infestação, bem como as diversas variedades de porta-enxertos. Atualmente, podemos identificar qualquer tipo de videira enviando uma amostra para laboratórios qualificados, que fazem o mapeamento do seu DNA, mas, na maioria das vezes, este procedimento é utilizado para confirmar o que encontramos nas vinhas pelo simples e, ao mesmo tempo complexo e detalhado, conhecimento da anatomia e da cor das folhas e adjacentes ramos das videiras. 

O guia original para a identificação de porta-enxertos resistentes foi publicado em 1952, com o título de Précis d’ampelographie pratique, com o resultado das pesquisas iniciadas em 1944 por Pierre Galet, professor catedrático da École Nationale Supérieure Agronomique, de Montpellier, quando os discípulos iniciaram seu treinamento na sistemática da identificação das diversas variedades de porta-enxertos das videiras analisando e descrevendo em detalhes morfológicos todas as características das folhas, incluindo sua cor e características do broto apical. 

A acuracidade da identificação de um determinado tipo de videira é importante na hora do plantio inicial para a formação de uma vinha, o que pode ser feito pela simples inspeção ampelográfica de um especialista com conhecimento profundo. No entanto, uma metodologia mais acurada, quando ocorrem dúvidas se o clone que estamos utilizando é aquele de nossa escolha, é o estudo de uma amostra de DNA analisada em laboratório especializado. 

A folha é a alma do vinho e expressa todos os sentimentos em relação ao meio ambiente e à maneira que as videiras estão sendo cuidadas. Elas são as primeiras a avisar se estamos na direção correta e a chamar nossa atenção para o que está precisando de correção. Um bom fim de semana para todos nós.

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