Mineralidade do vinho

Mineralidade do vinho


Esta palavra misteriosa está sempre presente quando participamos de grupos que se reúnem para a apreciação de vinhos brancos. Ela é difícil de definir — sequer a sua existência como uma palavra ou um termo existe em nossa língua —, mas, de qualquer maneira, circula por aí e, ao que tudo indica, veio para ficar quando utilizada para caracterizar a sensação de frescor de um vinho branco.
Para expressar a mineralidade presente no vinho ao levarmos a taça ao nariz e, em seguida, à boca, simplesmente usamos a palavra “mineral” como sendo uma característica importante, mas sem mais explicações. Recorrendo ao auxílio dos geólogos australianos I. J. Bear e R. G. Thomas, que cunharam a palavra “petrichor”, do grego “petros” (pedra) e “ichor” (o fluido que corre nas veias dos deuses da mitologia grega), o termo “mineral” seria “o aroma de terra fresca que invade o ar quando ela é molhada após um período de seca e liberado por moléculas de óleos provenientes das plantas, as quais foram previamente absorvidas pela terra”(1).
Em outros termos, a definição que eu adotaria, apoiada na feliz descrição desses geólogos, seria de que “mineral é a expressão máxima da capacidade que as videiras têm de extrair os elementos minerais presentes na terra e transformá-los em aromas e sabores, utilizando-se de complexas reações físico-químicas que, por sua vez, expressam a tipicidade das videiras, bem como a do solo onde estão plantadas”. Podemos, ainda, definir como “mineral” a sensação tátil e gustativa de chupar uma pedra tipo cascalho quando molhada e previamente aquecida ao sol, ou ainda a sensação de borbulhas de uma bebida gaseificada quando colocada em nossas bocas.
A mineralidade pode ser igualmente simulada pela conhecida técnica de vinificação reduzida, por exemplo, pelo contato prolongado do mosto residual, obtido logo após a prensagem das uvas, com o suco que será posteriormente fermentado. Outro argumento presente contra o uso do termo descritivo “mineral, visto sobre o ponto de vista da Química, é que os minerais são elementos puros desprovidos de radicais voláteis e, portanto, incapazes de gerar aromas e sabores, exceto quando sofrem um processo de oxidação. Un exemplo é o ferro, quando oxidado pelo contato com o oxigênio do ar ambiente e com a umidade, transforma-se em ferrugem, com coloração, aroma e sabor alterados.
Outro fator natural que afeta a percepção de mineralidade de um vinho branco é a maior ou menor intensidade dos aromas típicos de cada variedade de uva: quanto mais aromáticas, menor é a capacidade de percebemos a mineralidade. Os Vinhos Verdes portugueses, em muitas ocasiões, expressam uma intensa mineralidade, bem como os Rieslings que, comumente é descrita como uma excessiva percepção de acidez erroneamente.Independentemente da aparente confusão em sua definição, a presença da mineralidade é um importante fator para definir a influência do solo na produção de um vinho de qualidade, dando-lhe vida e definindo seu estilo próprio, sempre auxiliado por um viticultor consciente. Um bom final de semana para todos nós.

(1) Uvas e Vinhos: O Prazer da Descoberta. João Roberto. Editora Novo Conceito. Segunda Edição.

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