O nascer de um vinho - 2

O nascer de um vinho - 2

O tipo de solo e os elementos que o compõem são os mais importantes fatores que devem ser levados em consideração quando planejamos cultivar uvas para a elaboração de vinhos de qualidade. O solo dá o necessário suporte para que as videiras fixem suas raízes por um período que pode se estender além de cem anos e continuarem a produzir uvas de qualidade que crescem destas videiras conhecidas pelo nome de “Vieille Vignes”.

O solo ideal deve ser suficientemente permeável para evitar o acúmulo excessivo de água durante os períodos chuvosos que favorecem o desenvolvimento de organismos que podem prejudicar a videira e até mesmo destruir as suas raízes, como é o caso da temível praga Phylloxera. Ao mesmo tempo, é preciso manter uma umidade ideal para a absorção dos minerais, fundamentais para o desenvolvimento e a maturação das uvas.

O pH é a medida mais importante e imprescindível na avaliação do solo antes de iniciarmos  a escolha e o plantio das videiras, visto que ele controla a menor ou maior absorção dos elementos minerais e outros nutrientes necessários  para o desenrolar ideal do ciclo anual de uma videira. O pH ideal indica um solo ligeiramente ácido, de 6.0, tendendo para um ligeiramente alcalino, ao redor de 7.5. A absorção de elementos essenciais, como cálcio, magnésio, molibdênio, ferro, fosfatos, nitritos e do importantíssimo potássio, condicionados à sua presença no solo e regulados pelo pH, define como será a colheita das uvas viníferas a cada ciclo anual e regulamentam o processo da fotossíntese durante os dias ensolarados.

Os diferentes tipos de solo afetam sobremaneira a tipicidade e as características de um vinho elaborado com uma mesma cepa de uva nas diferentes regiões ao redor do mundo. As videiras apreciam solos arenosos, ricos em cascalhos — que, nas noites frias, irradiam o calor transmitido pelo sol durante o dia —, bem drenados e com características bem definidas para o completo desenvolvimento durante seu longo ciclo produtivo, que se inicia depois de seus cinco anos, atingindo o ápice a partir dos dez anos.

Terrenos conhecidos como pré-históricos (formados de depósitos de conchas submarinas e restos vulcânicos), os solos dolomíticos (ricos em cálcio e magnésio), aqueles onde predominam o granito, o quartzo, o xisto, o silício e os carbonatos, em mistura com argila, imprimem tipicidade às videiras e às uvas que ali crescem.

Podemos finalizar este capítulo de hoje afirmando com certeza que cada taça de vinho traz dentro de si um pouco do solo onde a mãe videira se desenvolveu. Um bom final de semana para todos nós. 

Dr. João Roberto
Food & Wine Styling and Photography
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