
O vinho: o desafio da escolha - 2
O hábito, a cultura e a disponibilidade são fatores que influenciam a escolha do vinho de acordo com a denominação que usamos para classificá-los quando colocamos em destaque a sua cor. Ao olhar atentamente para a carta de vinhos de restaurantes ou mesmo a lista de vinhos disponíveis em lojas especializadas, nota-se claramente a predominância dos vinhos tintos sobre os brancos e até mesmo a completa ausência dos rosés. Nas prateleiras e adegas de supermercados, notamos igualmente que os tintos ocupam aproximadamente 80% do espaço disponível.
Os elementos básicos presentes nos vinhos — os taninos, os ácidos e os açúcares —, responsáveis pelo seu equilíbrio e consequente harmonização, diferem em quantidade e qualidade nos tintos em relação aos brancos. O vinho tinto difere do branco não somente pela cor, mas apresenta um nível de tanino muito mais elevado, menor acidez, maior complexidade de aroma e estrutura. Para compensar essas diferenças, os vinhos brancos devem ser elaborados sob critérios muito mais rígidos do que os tintos, o que não ocorre com frequência.
Existe uma grande preferência pelos vinhos tintos em relação aos brancos disponíveis para o consumo, sendo que um dos principais fatores responsáveis é o desequilíbrio açúcar-acidez. Este desequilíbrio é o responsável por uma acidez excessiva, o que é sempre indesejável, o que ocorre em muito menor escala nos vinhos tintos. Ao mesmo tempo, é de se notar que é cada dia maior a participação no mercado dos espumantes brancos brasileiros de alta qualidade que merecem a nossa atenção, espumantes que, em muitas ocasiões, são melhor escolha entre os muitos importados disponíveis, provenientes de outros países, o que felizmente vem ocorrendo também com um número crescente de vinhos tintos brasileiros, principalmente aqueles elaborados com a uva Merlot.
Aqui vale colocar um pequeno parêntesis ao comentarmos sobre os vinhos tintos brasileiros: a Merlot, sem dúvida, é a varietal que irá conferir tipicidade aos vinhos brasileiros, como ocorre com a Malbec, na Argentina, a Carmènére e a Cabernet Sauvignon, no Chile. Quanto aos brancos produzidos nesses dois países, somente se destacam os elaborados com a varietal Chardonnay em algumas poucas áreas do Chile, os bons espumantes brasileiros estão muitíssimo à frente dos produzidos em ambos.
Outra consideração importante a ser feita é que os principais elementos que interagem nos vinhos tintos são os taninos e os ácidos, ao passo que, nos brancos, são os ácidos e os açúcares. Para que os vinhos sejam harmônicos e agradáveis ao paladar, independentemente do tipo de uva utilizada em sua vinificação, devemos levar em consideração o seguinte: um alto nível de tanino requer uma baixa acidez, sendo que o inverso é verdadeiro. Os vinhos rosés seguem as mesmas regras, a diferença é que eles são produzidos com uvas tintas, nem todas dão bons rosés, macerados com a casca por um período curto que não passa de 48 horas, ou, quando é permitido — no caso, por exemplo, do Champagne — pela “assemblage”, mistura do vinho tinto com o branco.
Além disso, ao contrário do que se pensa, não existe uma total ausência de taninos nos vinhos brancos, apesar de passarem quase totalmente imperceptíveis ao nosso paladar. Um bom final de semana para todos nós.