
O vinho: o desafio da escolha - 4
O domínio dos países da Europa na produção de vinhos finos era total até 150 anos atrás, quando o Novo Mundo abriu fronteiras com uma forte determinação de produzir vinhos tão bons ou melhores do que aqueles provenientes das vinícolas cujas bebidas ficaram conhecidas como do Velho Mundo. A meta inicial dos novos produtores era a produção de vinhos ao estilo dos franceses da região de Bordeaux, que dominava o mercado de vinhos de qualidade, pois se acreditava que, sem o solo e clima desta região e das outras europeias, a proposta seria inviável. Este foi simplesmente um engano que, atualmente, tem custado muito caro para os europeus.
Tudo começou com a Austrália, quando o país importou do Rhône Norte a variedade que lhe deu fama no mundo dos vinhos, a Syrah, lá sendo batizada com o nome de Shiraz. O caminho estava aberto e outros países aderiram ao pensamento e à determinação dos australianos. Surgiram os vinhos do Novo Mundo, que se posicionaram fortemente junto aos do Velho Mundo, forçando-os a mudar muitas de suas antigas técnicas de cultura e de vinificação da Vitis Vinifera, adotando novas tecnologias, sobretudo aquelas desenvolvidas na Austrália e na Califórnia, mas sem abandonar muitas práticas básicas herdadas de seus ancestrais.
Na Austrália, a Syrah domina, com excelentes tintos elaborados principalmente no sul, nas regiões de Barossa e Mac Laren, o seu Chardonnay, que passa pelas barricas de carvalho, podendo ser comparado aos da região da Bourgogne. Nos Estados Unidos, a Califórnia dá excelentes Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e ainda Zinfandel; o estado do Oregon é respeitado pela qualidade de seus Pinot Noir. A Nova Zelândia surpreende com o Sauvignon Blanc e por um delicado Pinot Noir. A África do Sul tem mostrado um desempenho invejável nos últimos 15 anos com a Syrah, a Pinot Noir e sua mais recente estrela, a Sauvignon Blanc. O Chile brilha com a Cabernet Sauvignon com características bem distintas de região para região, o que possibilita uma enorme gama de escolhas, sem deixar de lado a sempre presente Carménère e a Merlot. A grande descoberta da Argentina é a Malbec, que vem crescendo rapidamente no gosto dos apreciadores de seus vinhos tintos. O Brasil já desfruta de uma importante posição no gosto dos apreciadores, sobretudo com os espumantes e os tintos elaborados com a Merlot. O Uruguai se identificou rapidamente com a Tannat, com grande sucesso na produção de vinhos tintos. Tasmânia, México e até mesmo Venezuela têm merecido destaque nas feiras de vinhos que acontecem ao redor do mundo, mas ainda não tive a oportunidade de apreciá-los para formar uma opinião própria até este momento.
Outro desafio que se apresenta é a grande quantidade de uvas que se prestam à vinificação, cerca de 80, bem como seus inúmeros clones que se adaptam aos mais diferentes clima e solos onde são cultivados. Um elemento importante a ser levado em consideração na escolha de um vinho, seja ele do Velho ou do Novo Mundo, é que cada um deles tem um estilo próprio, lembrando que o estilo do Pinot Noir da Bourgogne é diferente daquele da Nova Zelândia, do Oregon e assim por diante. O estilo faz o vinho e nada mais prazeroso do que descobrir o estilo de cada um deles e as surpresas que estão a nos esperar em cada taça. Um bom final de semana para todos nós.