A Syrah– 2

João Roberto

28 Out 2010 14:37

Na época da colheita da Syrah, além da verificação do seu ponto de maturação ideal, avaliado pela quantidade de açúcar e taninos maduros, é importante também avaliar a maturação de suas hastes, que ocorre concomitantemente com as uvas, o que não acontece com Cabernet Sauvignon, cujas hastes permanecem verdes e devem ser removidas antes do início do processo de fermentação.

A fermentação tradicional da Syrah é feita em barricas de carvalho, juntamente com uma pequena quantidade de suas hastes, conhecidas com o nome de engaço e com temperatura controlada, o que facilita a harmonização dos taninos presentes no carvalho das barricas e dos taninos originais da uva. Esse procedimento dá origem a um vinho bem estruturado, que ao entrar em contato com as nossas papilas gustativas e, principalmente, com as nossas gengivas, onde ocorre a maior percepção dos taninos, percebemos um único sabor, praticamente indivisível, uma das características muito apreciadas quando se trata de um Syrah de alta qualidade e de uvas cultivadas em seu clima ideal.

No Rhône Norte, a região predominante da Syrah na França, esta varietal é vinificada solo, sendo permitida a adição de até 20% da varietal branca Viognier, mas raros produtores utilizam a Viognier e, quando o fazem, não vão além de 5%. Os franceses são tradicionalistas na produção de vinhos elaborados com a Syrah. Já na Austrália, novos métodos de cultivo e vinificação vêm sendo utilizados, inclusive atuando na genética de alguns clones, visando a diminuir ou a atenuar a presença de ésteres, que dão um excessivo toque apimentado à Syrah australiana, principalmente quando são cultivadas no sul do país em grandes áreas, onde predomina os vestígios da era Cambriana.

Sem margem de dúvidas, quando a Syrah ultrapassou as fronteiras do Rhône Norte, o seu abrigo preferido ainda continua sendo a Austrália. O Chile é outro país, ao lado da África do Sul, que vem produzindo bons vinhos elaborados com esta varietal. Apesar de ainda ser cedo para avaliar seu desempenho, eles são uma escolha muito boa quando desejamos conhecer e apreciar vinhos mais acessíveis elaborados com esta varietal que continua desafiando os produtores do Novo Mundo, sobretudo quando se trata de domar seu excessivo toque apimentado, que não agrada muitas pessoas, mas é um belo desafio quando se trata de elaborarmos pratos para uma perfeita harmonização. Um bom final de semana para todos nós.