
VINHOS ESPUMANTES: CHAMPAGNE-1
Mais do que qualquer outro espumante, a palavra Champagne está sempre associada ao romantismo — desde a história de seu nascimento, ainda controvertida, até a produção nos dias de hoje. Sua produção envolve uma série de reações químicas peculiares, bem como os processos relacionados à ciência física da produção e à dissolução das microbolhas de gás carbônico, que se desenvolvem no líquido fermentado e mantido sobre pressão após o engarrafamento.
Na abadia de Hautvillers, em 1668, na região de Champagne, situada a 200 quilômetros de Paris, o monge beneditino por vocação, mas jesuíta inicialmente, Dom Pérignon, assumia a posição de mestre responsável pela adega, status que ocupou durante 47 anos, até sua morte, em 1715. Dom Pérignon era descrito como um humilde e obediente seguidor das regras de sua ordem eclesiástica, além de conhecedor profundo de teologia e filosofia.
O monge observou, de maneira independente, o mesmo fenômeno descrito pelo doutor Morret e apresentado à Academia Real de Londres em 1662. Ambos notaram que, ao acrescentar açúcar ou melado a um vinho, este sofria uma segunda fermentação, produzindo um líquido efervescente. Dom Pérignon conseguiu, assim, graças ao seu reconhecido caráter — descrito pelos colegas da época como meditativo, introspectivo, talentoso e criativo —, padronizar um método para aprisionar essas bolhas, desenvolvendo uma técnica utilizada até os dias de hoje para o fechamento das garrafas que permitiu que fossem armazenadas e transportadas por longas distâncias, com a finalidade de arrecadar fundos para o convento e para as inúmeras famílias pobres da região. Estava, assim, criado o método da transformação dos vinhos tranquilos em efervescentes, batizado como Método Champenoise.
A região de Champagne, graças ao seu espumante, é considerada a mais rica produtora de vinhos do mundo, a única não afetada pela crise financeira que castiga toda a Europa. O que seria um capricho da natureza para uns era considerada a presença do dedo de Deus através do visionário monge beneditino. Dom Pérignon não parou aí. Esse austero monge que não bebia e somente degustava vinhos foi, igualmente, responsável pelo método denominado de “assemblage”, que consiste na mistura de vinhos elaborados com diferentes castas de uvas, quer sejam brancas ou tintas, ou de diferentes safras, no caso específico da região de Champagne, com as tintas Pinot Noir e Pinot Meunier e a branca Chardonnay. Quando somente a Chardonnay é utilizada na produção do Champagne, esta recebe o nome de Blanc de Blancs. A “assemblage” é um dos maiores segredos das grandes casas produtoras de Champagne, responsável pelo sucesso de cada uma delas no concorrido mundo dos vinhos. Aqui fica o convite para continuarmos nossa viagem pela região de Champagne, até lá. Um bom final de semana para todos nós.