Vinhos: uma nova fronteira -2

Vinhos: uma nova fronteira -2

Uma missão dificílima, quebrar a hegemonia dos países europeus na produção de vinhos de alta qualidade com a variedade Vitis vinifera, já não era mais impossível. A hegemonia fora quebrada e o Julgamento de Paris era uma prova concreta, uma nova fronteira para os vinhos do Novo Mundo estava definitivamente aberta.

A seleção e o cultivo das variedades nobres foram os primeiros passos, mas ainda faltava uma identidade permanente que comprometeria o gosto dos mais exigentes apreciadores de vinhos de qualidade e, ainda, cobrir os altos custos neste tipo de investimento considerado de altíssimo risco. Uma nova missão estava à frente dos destemidos produtores do Novo Mundo, mostrar aos seus consumidores que “tipicidade”, que me perdoem alguns produtores franceses, é tão importante para conquistar os nossos paladares como “terroir”.

As discussões sobre o termo “terroir”, quando se limitam às palavras clima e solo, nunca terão um final. Seu conhecimento é de suma importância para cada clone, em relação à escolha da variedade de uva a ser cultivada em uma determinada região. Os inúmeros clones dessas uvas são desenvolvidos para aumentar a resistência às pragas que afetam as videiras e, igualmente, visam à adaptabilidade das mesmas a determinado clima, solo específico e a outras condições ambientais variáveis ao longo dos anos de cultivo. O “terroir” de cada região, associado à tipicidade de cada uva, sem prescindir das técnicas de viticultura e vinificação modernas, tem uma fundamental importância em um novo conceito, que deve ser levado em consideração quando da escolha e do julgamento sobre um determinado tipo de vinho, independentemente do país e da região de origem. Para apreciarmos o que o universo dos vinhos nos oferece é necessário conhecer e respeitar o “estilo” de cada um deles, não somente vinculado à origem, mas também ao seu produtor, e respeitar aquilo que ele quer mostrar quando coloca o seu vinho à nossa disposição.

Gostaria, aqui, de cunhar uma frase que, à primeira vista, pode ser pretensiosa: “o estilo faz o vinho”. À medida que nossos conhecimentos sobre as práticas utilizadas na moderna viticultura e vinificação avançam com a finalidade de produção de vinhos de alta qualidade, desenvolvemos e educamos nossa percepção sensorial. Fatalmente, encontraremos os vários “estilos” de vinho que nos agradam, independentemente de sua origem geográfica, das diferentes variedades de uva utilizadas, vinificadas com um único tipo ou em “assemblage” e, muito menos, levando em consideração as três cores básicas — o tinto, o branco ou o rosé —, como já discutimos anteriormente.

Para dar um simples e único exemplo, o estilo de um Pinot Noir da Bourgogne é diferente de um Pinot Noir do Oregon, da Nova Zelândia, do Brasil ou ainda de um Pinot Noir produzido dentro das diferentes áreas e das pequenas propriedades na sua terra natal, a Bourgogne. Estabelecendo e perseguindo um “estilo”, uma nova fronteira se abriu mais uma vez para os vinhos do Novo Mundo. A missão, que inicialmente parecia impossível, venceu os obstáculos. Mas, como todas as missões, ela nunca tem um final e, para a felicidade dos apreciadores de vinhos de alta qualidade, a batalha continua. Um bom final de semana para todos nós.

Dr. João Roberto
Food & Wine Styling and Photography
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