Decompondo constructos psicológicos

Decompondo constructos psicológicos

          Em Psicologia, há vários constructos que, além de serem cientificamente interessantes, permeiam nossa vida cotidiana. Exemplos? Felicidade, inteligência, criatividade, liderança, empatia, amor, dor e personalidade, entre outros. Esses constructos, conceitos abstratos que são, podem, entretanto, serem operacionalmente definidos e passar a integrar nossas vidas. Certamente, todos se perguntando, em algum momento, como alcançá-los, aumentá-los e melhorá-los. Ao longo de minha vida acadêmica, aprendi a decompor a análise desses constructos, fazendo, usualmente, cinco questões, as quais, entendo, constituírem uma importante matriz de raciocínio para decifrar quaisquer constructos, sejam eles de natureza psicológica, biológica, econômica ou físico-química. Vamos a elas.

            A primeira delas é questionar se o constructo tem uma ou várias dimensões. Vejamos, por exemplo, o caso da inteligência. Temos uma ou várias? Certamente, um constructo tão complexo quanto este requer uma análise científica rigorosa e ampla. Há teóricos que aceitam a idéia de que temos apenas uma só inteligência, por eles denominada inteligência geral. Mas há, também, outros que supõem a existência de “n” inteligências, todavia, sem saber, precisamente, quantas estão inseridas neste “n”, ou seja, se 3, se 7 ou 10, se 150. Outro exemplo? Quantas lideranças temos? Uma só ou vários tipos? E personalidades? Você responde.

            A segunda pergunta refere-se a quais variáveis controlam, fenotipicamente, a expressão do constructo. São variáveis genéticas ou ambientais que determinam a inteligência, a personalidade, etc? Um exemplo? A criatividade é determinada geneticamente ou aprendemos a ser criativos? Se a aprendemos, como nos tornar cada vez mais criativos? Há mágicas cerebrais que nos fazem mais inovadores e criativos? Vejo, sarcasticamente, que há vários “santeiros” da inteligência e da criatividade que vendem receitas que nos prometem elevar tais qualidades ao infinito. Eu mesmo, por curiosidade me matriculei num desses cursos, e vos confesso: “Apenas ganhei mais amigos, pois o aumento da inteligência e criatividade sequer deram bom dia. Mas certamente foi um bom ganho. É sempre bom termos mais amigos que inimigos.

            A terceira pergunta, estreitamente relacionada à segunda, se refere à possibilidade de enriquecermos, ou aumentarmos, o constructo de interesse. É sabido que quase todos nós nos perguntamos se é possível enriquecermos nossa capacidade de liderança. Ou seja, posso melhorar minha liderança, felicidade e inteligência? Ora, preciso conhecer, portanto, quais variáveis controlam esses constructos. Seriam genéticas ou do ambiente? Seriam ambas? Se forem geneticamente determinadas posso aumentar minha capacidade de liderar? Se supormos que sim, diga-me, então, qual variável do ambiente pode ser manipulada para promover esta mudança?

            A quarta questão foca se podemos mensurar, de alguma forma, um constructo pelo qual temos interesse. Vejamos. Qual seu QI? Qual o QI de cada uma das inteligências que você tem? Qual seu grau de felicidade? E quando casou? E quando conseguiu o primeiro emprego ? Quando de aposentou? Quando o Corinthians ganhou? Quando o Brasil saiu da crise? Ora, para fomentar ou enriquecer tal construto, é preciso ter uma medida basal de forma a verificar se o mesmo está sendo eficaz neste propósito.

            Exemplo ilustrativo? Tomemos o constructo dor. Para que um clínico possa aferir se a intensidade da dor em sua primeira consulta foi atenuada devido à ação de um particular medicamento, ele precisa mensurá-la e, a partir de várias medidas, poder aferir a eficácia, a segurança e a tolerabilidade de um particular medicamento,,bem como, alterar a dosagem, combinar medicamentos ou, até mesmo, trocar a substância. Logo, mensurar um constructo é um dos aspectos mais importantes da pesquisa científica. A propósito, considerando seus dias ao longo da semana, quanto feliz você foi, numa escala de 0 a 10?

            A quinta, e última, pergunta que faço, e recomendo aos meus alunos fazerem, é: “Quais são as implicações desse constructo? Você acha que é importante ser criativo na sociedade moderna? Qual o papel da inteligência para o desenvolvimento econômico? As pessoas mais felizes produzem mais ou têm menos distúrbios psicossomáticos? Nações mais ricas são mais felizes? E as pessoas mais ricas? Têm mais renda e ocupam melhor as colocações no mercado de trabalho?

Pense sobre isso.

Compartilhar: