“É a Inteligência Emocional, estúpido! ”

“É a Inteligência Emocional, estúpido! ”

               Inteligência emocional tem recebido uma atenção muito especial por parte da mídia, falada e escrita, da nossa região. Certamente, não preciso enfatizar que, ao redor do mundo, esta área vem ocupando lugar de destaque nos estudos de inteligência. O fato é que, regionalmente, duas psicólogas abordaram, recentemente o assunto. Uma, num jornal local, enquanto outra, num programa de entrevista regional. Ambas destacaram a importância do constructo de inteligência emocional nos contextos educacional, clínico, industrial e no cotidiano. Talvez por questões de espaço, ou por não ser oportuno, na ocasião, ambas não definiram, com clareza, o que significa inteligência emocional, como mensurá-la e, tampouco, quais as diferenças da mesma em relação à inteligência cognitiva.

                A pesquisa e a teoria sobre inteligência emocional se enquadram em três amplas categorias: concepções sobre habilidade, concepções sobre traços e abordagens mistas. A conceituação da inteligência emocional como habilidade define o constructo como a habilidade para reconhecer o significado das emoções, e suas relações, bem como, para raciocinar, e solucionar, problemas baseando-se nelas. Caso em que, inteligência emocional está envolvida na capacidade para perceber emoções, assimilar achados relacionados a emoções e entender a informação dessas emoções, manipulando-as. Em outras palavras, inteligência emocional é uma habilidade cognitiva especial, emergindo, dessa concepção, quatro componentes que integram a matriz da mesma: regular as emoções reflexivamente, entender as emoções, assimilar emoções no pensamento e perceber e expressar emoções. Interessante é que, estes quatro conjuntos de habilidades são considerados estarem num continuum, indo de um nível inferior (perceber e expressar as emoções) a um nível mais elevado (reflexivamente regula ras emoções). A importância disso? A partir desse modelo, verificar que, inteligência emocional compõe habilidades que podem ser mensuradas e ensinadas.

                Entendendo a inteligência emocional como um conjunto de traços, a mesma deve ser focada dentro de uma matriz que inclua características de personalidade que lidam, especialmente, com o afeto. Neste caso, inteligência emocional se refere aos comportamentos típicos e a maneira de se experenciar o mundo, ao invés de, apenas, ser entendida como uma habilidade genuína. Assim considerando, na matriz de inteligência emocional, incluir-se-ão fatores de emocionalidade de alta ordem, auto-controle, sociabilidade, bem-estar e empatia, entre outros. Entretanto, há quem entenda que inteligência emocional seja, apenas, mais um traço de personalidade. Neste caso, bastaria determinar os grandes traços de personalidade, mensurá-los e verificar o impacto preditivo dos mesmos nos diferentes indicadores socioeconômicos e educacionais. O modelo misto, por sua vez, engloba características tanto de habilidades quanto de traços. Ainda em relação à matriz, há teorias que destacam cinco fatores de ordem elevada: intrapessoal, interpessoal, manejo do estresse, adaptabilidade e humor geral.

                Para que um construto possa ser rotulado como inteligência, ele deve atingir três critérios: conceitual, correlacional e evolutivo. Conceitual, entende que a inteligência deve representar um desempenho mental mais do que um construto não intelectual, tais como, autoconceito ou modos de comportamentos preferidos. Correlacional, entende que a inteligência deve ser distinta empiricamente de outra, previamente concebida. Em outras palavras, entende inteligência emocional como algo estatisticamente diferente tanto de inteligência cognitiva quanto de outra que venha a ser concebida. Evolutiva, entende que a inteligência deve mudar quando a pessoa envelhece e ganha experiência em áreas relevantes.

                Em essência, é preciso que nos apoiemos em três pilares para sustentar que inteligência emocional mereça galgar uma posição na pirâmide estrutural das inteligências. Primeiro, necessitamos ter uma definição operacional de inteligência emocional, que nos informe dos muitos componentes da inteligência, relevantes ao funcionamento emocional e ao sucesso inter e intrapessoal. Segundo, considerando inteligência emocional uma habilidade, é necessário determinar quantas habilidades específicas são necessárias para capturar suas múltiplas facetas. Terceiro, e muito fundamental, torna-se necessário desenvolver ferramentas que meçam essas diferentes facetas da habilidade que denominamos inteligência emocional.

                As medidas de inteligência emocional devem, então, nos dizer alguma coisa nova sobre as habilidades cognitivas. Coisas, estas, que ainda não distinguimos nos estudos das habilidades intelectuais. Fato este que nos reclama jamais inventar uma roda que esteja, apenas, lustrada de novo, e não sendo, realmente, algo novo. A relação disso com o título? Em 1991, o presidente dos Estados Unidos, George Bush, venceu a Guerra do Golfo e resgatou a autoestima dos americanos após a dolorosa derrota no Vietnã. Assim, era o favorito absoluto nas eleições de 1992 ao enfrentar o desconhecido governador de Arkansas, Bill Clinton. O marqueteiro de Clinton, James Carville, apostou que Bush não era invencível com o país em recessão e cunhou a frase que virou case de marketing eleitoral: “É a economia, estúpido! ”. Fazendo um paralelo, cabe, aqui, a mesma observação em relação à inteligência emocional. Principalmente quando se coloca a culpa do mau desempenho escolar nas costas dessa mesma inteligência. É preciso separar o joio do trigo, estúpido!

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