As faces diabólicas da desigualdade humana (II)

As faces diabólicas da desigualdade humana (II)

Livros recentes trataram as grandes disparidades regionais e global, focando, exclusivamente riqueza e pobreza. Em Development and Underdevelopment: the political economy of global inequality, desde sua primeira edição em 1993, Michell A. Seligson refere-se à tese de Q.W. Rostow, segundo a qual “subdesenvolvimento é apenas um estágio que nações atravessam em sua trajetória para tornarem-se desenvolvidas”, observando que “A lacuna de renda entre os países ricos e os pobres tem crescido dramaticamente desde a II Guerra Mundial”. Por sua vez, John T. Passé-Smith afirma que “a lacuna absoluta entre países de alta-renda e os baixa-renda tem crescido vertiginosamente desde 1960”, chegando a disparidade de ampliar-se de $11.924 em 1960 para $23.901 em 2005, entre países ricos e países pobres. Em outra obra, Poverty and Development into 21st Century (2000), Tim Allen e Alan Thomas afirmam que “na nova era de globalização, a questão da assustadora da pobreza de um grande número de pessoas no mundo, com a enorme e contínua desigualdade entre ricos e pobres, permanece tão potente como sempre”. Eles ilustram as realizações dos países em desenvolvimento no último terço do século 20 referindo-se a alguns dados do Relatório sobre o Desenvolvimento Humano das Nações de 1998. Algumas delas? A expectativa de vida ao nascimento para os países em desenvolvimento tem aumentando de 46 para 62 anos; a taxa de alfabetização nos países em desenvolvimento aumentou de 48 para 70%; a taxa de matrícula em educação pelas mulheres nos países em desenvolvimento elevou-se de 38% para 68% e o PIB médio per capita para todos os países em desenvolvimento elevou-se de $330 para $867, entre outras. Estas realizações são significativas? Certamente, mas, cumpre lembrar que muitas lacunas entre as nações ricas e as nações pobres estão ainda se ampliando.

Surjit S. Bhalla, em seu livro Imagine there´s no Country: poverty, inequality, and growth in the era of globalization, argumenta, contrariamente à sabedoria convencional, que pobreza e desigualdade estão declinando como uma consequência da globalização. De acordo com seus dados, desigualdade estava, ao término do ano 2000, em seu nível mais baixo ao longo de 50 anos. Ele rejeita a afirmação do Banco Mundial de que os países mais pobres têm crescido num ritmo mais lento do que os países mais ricos. A conclusão de Bhalla é o oposto: nações pobres têm crescido mais rapidamente. Ademais, “se a unidade de observação não for o país pobre, mas o indivíduo pobre, então a taxa de crescimento tem sido consideravelmente mais rápida do que anteriormente, e consideravelmente mais elevada do que a taxa de crescimento nas econômicas industrializadas”. Francois Bourguignon e Christian Morrison, em seu paper em American The Economic Review (2002) exploraram a desigualdade entre os cidadãos do mundo ao longo do período de 1820-1992. Seus trabalhos mostram que a desigualdade de renda já era elevada no início do século 19 e elevou-se mais continuamente de 1820 até à véspera da I Guerra Mundial. O aumento da desigualdade desacelerou entre as guerras e reduziu-se após 1950. Eles disseram que “a desigualdade no mundo alcançou um pico no meio do século 20 após mais de um século de contínua divergência”. Eles notaram que pobreza, a qual era um problema Asiático exatamente após a II Guerra Mundial, está agora se tornando um problema Africano.

Em The New Geography of Global Income Inequality, Glenn Firebaugh conclui que “desigualdade de renda entre as nações atingiu um pico no último terço do Século 20 e está agora declinando”, enquanto a desigualdade dentro das nações tem começado a elevar-se. Ele arguiu que a variação da desigualdade de renda entre as nações para dentro das nações continuará e ele chama a atenção para a possibilidade de que a crescente desigualdade dentro das nações pode elevar o espectro da crescente agitação civil e do terrorismo. Em The End of Poverty, Jeffrey Sachs (2005) está seguro de que é possível acabar com a pobreza em nosso tempo. Ele diz que “a riqueza do mundo rico, o poder do vasto estoque conhecimento de nossos dias, bem como, o declínio da fração do mundo que necessidade ajuda para fugir a pobreza, todos juntos, sinalizam que o fim da pobreza é uma possibilidade realística por volta do ano de 2025”. Seu argumento é que “o progresso tecnológico capacita-nos alcançar as necessidades básicas numa escala global e atingir uma margem acima das necessidades básicas sem precedentes na história”. Em seu último livro, Common Wealth (2008), Sachs estima que o fim da extrema pobreza talvez pudesse “requerer menos que 1% da renda anual do mundo rico para financiar investimentos cruciais necessários nos países pobres para livrá-los de armadilha da pobreza”. Eu suspeito que a erradicação da pobreza global no ano de 2025 não será possível e que esta ainda permanecerá como um dos grandes desafios do mundo.

Alastair Craig, e colaboradores, em Challeging Global Inequality (2007), notaram que, após a II Guerra Mundial, abundou a confiança entre acadêmicos ocidentais e políticos de que a lacuna, entre os países ricos e os países pobres, poderia ser estreitada através do crescimento econômico. Todavia, meio século depois, tem estado claro que este projeto de desenvolvimento fracassou. “A disparidade de renda per capita entre os países ricos e os países pobres tem progressivamente aumentada nos últimos 200 anos numa razão de 3:1 a entre 30:1 ou 50:1”. Entretanto, eles argumentam que a busca da igualdade de oportunidade, e a igualdade de resultados, deveria ser continuada. Meu argumento é que pode ser possível, em princípio, abordar igualdade de oportunidade, enquanto permanecerá impossível assegurar igualdade de resultados pela razão de que as pessoas não têm as mesmas habilidades para utilizarem igualdade de oportunidades. David Held e Ayse Kaya notaram, na introdução de seu livro Global Inequality (2007/2011), que evidências robustas ilustram as disparidades globais. Alguns exemplos? Aproximadamente 2.742 milhões de pessoas vivem sem condições sanitárias adequadas; a diferença entre expectativa de vida média entre os países ricos e os países pobres é de 19 anos; e os 10% mais ricos da população mundial recebem aproximadamente metade da renda mundial.

Mitchel A. Seligson, em Development under Development: the political economy of global inequality (2008), chega à conclusão “de que a desigualdade de renda, tanto entre os países, quanto dentro destes, está a desaparecer, ou mesmo, a diminuir”. Ele nota que “há pouca razão para acreditar que a disparidade de renda internacional esteja estreitando-se”. Esta lacuna “parece permanecer o mais simples dos sérios problemas confrontando a família de nações, e ele clama atenção dos políticos públicos”. Eu concordo. O problema é, porque esta disparidade persiste apesar de todos os esforços para erradicar a pobreza? Diferindo de muitos outros pesquisadores de desenvolvimento econômico, que têm definido países em desenvolvimento de maneira a incluir cinco bilhões dos seis bilhões de pessoas no mundo, Paul Collier, em seu livro The Botton Billion: Why the Poorest Countries Are Falling and What Can Be Done About It (2007/2008), nota que é “tempo para redefinir o problema do desenvolvimento como sendo sobre os países do bilhão inferior, aqueles que estão presos na pobreza”. De acordo com seu argumento, eles estão na pobreza devido a quatro armadilhas: conflito, recursos naturais, vizinhos ruins e má governança.

Estes livros, revisados acima, lidam com problemas básicos da desigualdade global e pobreza, considerando-as fenômenos multidimensionais. Neles, as variáveis, usadas para mensurar as disparidades entre países ricos e países pobres, ilustram várias dimensões de desigualdade e pobreza, com desigualdades econômicas, e outras disparidades humanas, sendo mensuradas por renda per capita, índice Gini, expectativa de vida, taxas de alfabetização adulta, razões de matrículas escolares, taxas de mortalidade abaixo de cinco-anos e taxas de mortalidade materna. Pobreza, sendo mensurada, em especial, por variáveis como a porcentagem da população vivendo com menos que $1 dólar por dia (extrema pobreza) e a porcentagem da população vivendo com menos que $2 dólares por dia (moderada pobreza).

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