As faces diabólicas da desigualdade humana (III)

As faces diabólicas da desigualdade humana (III)

Ao longo dos últimos anos, várias compilações e/ou relatórios sobre as diferentes medidas das condições humanas, especialmente sobre a riqueza e a pobreza das nações, têm sido publicadas. Os relatórios do Banco Mundial “World Development Indicators – WDI e o World Development Report – WDR”, bem como, aquele o “Human Development Report – HDR” das Nações Unidas, incluem inúmeros dados estatísticos sobre várias medidas das condições humanas. The CIA World Factbook (CIA) é outra fonte extremamente útil ao revelar dados empíricos de variados indicadores das condições humanas, sem nos esquecermos, também, das diversas discussões sobre a desigualdade global e a pobreza na internet. O Global Inequality, recentemente capturado da internet, revela-nos que 85% da população mundial (países com rendas média e baixa) possuíam 20% do Produto Nacional Bruto em 2001 e que 20% da população (países com renda alta) possuíam 80% do PIB. Em 1989, 23,4% da população total do planeta viviam com 1 dólar ou menos e 56,1% viviam com menos que 2 dólares ao dia. Estas porcentagens ilustram a extensão da desigualdade econômica no mundo. A desigualdade global tem duas diferentes dimensões: as desigualdades entre países e as desigualdades dentro dos países.

Por sua vez, o Atlas of Global Inequality, editado pela Universidade da Califórnia (2012), afirma que “Desigualdade global tem crescido dramaticamente ao longo dos últimos 300 anos” e que, ao fim do último século, “a desigualdade de renda global foi muito maior do que antes”, destacando-se que “o 1% das pessoas mais ricas no mundo recebiam tanto quanto os 57% daqueles na base inferior” e que a razão “entre a renda média do topo dos 5% no mundo e os 5% da extremidade inferior aumentou de 78 a 1 1988 a 114 a 1 em 1993”. Estes indicadores ilustram a extrema desigualdade de renda no mundo. A maioria das pessoas no mundo é pobre. De acordo com a definição de pobreza da Wikipedia, pobreza é a privação de alimento, moradia e roupas que ocorre quando as pessoas não podem satisfazer suas necessidades básicas. A pobreza absoluta refere-se a um estado de privação severa das necessidades básicas, usualmente incluindo alimento, água, sanitarismo, vestuário, moradia, cuidados com a saúde, educação e informação. A pobreza relativa é definida como a desigualdade econômica na sociedade na qual as pessoas vivem. O Banco Mundial estimou que 1,29 bilhão de pessoas estavam vivendo na pobreza absoluta em 2008. Deste total, aproximadamente 400 milhões viviam na Índica e 173 milhões na China. A taxa de incidência mais elevada de pobreza absoluta estava na África sub-Sariana, atingindo 47% da população.

A “proporção da população no mundo em desenvolvimento, vivendo na extrema pobreza econômica, baixou de 28% em 1990 para 21% em 2001”. Muito da melhoria ocorreu na Ásia Oriental e do Sul, enquanto na África sub-Sariana a extrema pobreza aumentou de 41% em 1981 para 46% em 2001. Várias variáveis têm sido usadas para medir a extensão e variação da pobreza: Porcentagem da população vivendo com menos que 1,25 dólares por dia; porcentagem da população sofrendo de fome; expectativa de vida; o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o coeficiente GINI. Nos escritos do One World (City University of London) é anotado que as “consequências da pobreza persistente incluem fome, crianças fora da escola, exposição desnecessária de risco à saúde e diminuição dos recursos domésticos”. Pobreza é um fenômeno multidimensional. A linha de pobreza internacional considerada pelo Banco Mundial é de 1,25 dólares por dia. “Um segundo nível de pobreza internacional é de 2 dólares por dia que é derivado dos níveis médios de pobreza nacional em todos os países de rendas baixa e média”. De acordo estes indicadores, o número de pessoas abaixo da linha de pobreza internacional de 1,25 dólares por dia caiu de 1,82 bilhões a 1,37 bilhões entre 1990 e 2005. A China foi responsável por 475 milhões da redução em 2005, o que significa que a pobreza aumentou em outro lugar, na Índia o aumento foi 91 milhões de pessoas.

O Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas aponta em seu sumário executivo do relatório “The Inequality Predicament: Report o the World Social Situation 2005” que o compromisso global para superar a desigualdade entre os ricos e os pobres está desaparecendo: “80% do produto doméstico bruto do mundo pertence a 1 bilhão de pessoas vivendo no mundo desenvolvido; os remanescentes 20% é compartilhado por 5 bilhões de pessoas vivendo nos países em desenvolvimento”.  O relatório destaca que a desigualdade econômica e não econômica tem aumentado em muitas partes do mundo e que “Nunca houve qualquer ilusão de que a desigualdade seria total e sistematicamente eliminada, mas a luta para conseguir até mesmo uma medida de sucesso tornou-se cada vez mais difícil”. A proporção da população mundial vivendo com menos que 1 dólar por dia diminuiu entre 1981 e 2001 indo de 40 a 21%, e o compartilhamento daqueles vivendo com menos que 2 dólares por dia variou de 67 a 53%. No mesmo período. O relatório chama a atenção ao fato de que a lacuna “entre a África e o resto do mundo permanece e tem até mesmo ampliado em alguns aspectos”.

Zygmunt Bauman, em profunda análise da desigualdade humana, aponta em “Does the Richness of the Few Benefit Us All” (2013) que, “a cada dia, avultam-se sem parar informações ainda piores para a igualdade humana e também para a qualidade de vida de todos nós” e que “as desigualdades sociais teriam feito corar de vergonha os inventores do projeto social moderno”. Ele dramatiza afirmando que “a riqueza combinada das cem pessoas mais ricas do mundo é quase duas vezes maior que aquela dos 2,5 bilhões de mais pobres” e “as pessoas na faixa do 1% mais rico da população mundial são quase 2 mil vezes mais ricas que aquelas dos 50% da faixa inferior da escala”.  Em outro momento afirma “em quase toda parte do mundo a desigualdade cresce rapidamente, e isso significa que os ricos, em particular os muito ricos, ficam mais ricos, enquanto os pobres, em particular os muito pobres, ficam mais pobres”. A eterna questão da desigualdade, bem como, suas causas e consequências, atualmente, tem sido trazido de volta de forma acalorada aos palcos políticos, acadêmicos, religiosos e sido discutida a partir de processos completamente novos, espetaculares, chocantes e reveladores. 

Compartilhar: