As faces diabólicas da desigualdade humana (X)

As faces diabólicas da desigualdade humana (X)

        Desigualdade, fenômeno multidimensional, envolve inúmeras variáveis passíveis de serem usadas para mensurar diferenças globais em diferentes perspectivas. Dentre estas, as mais frequentemente utilizadas para tal são (1º) a desigualdade de renda, (2º) pobreza, (3º) educação, (4º) saúde, bem como, outros indicadores que mensuram a disparidade no crescimento econômico, (5º) expectativa de vida, (6º) nutrição, (7º) sanitarismo, (8º) corrupção e (9º) democracia. Todavia, em muitos países, vários destes indicadores não são rotineiramente mensurados e, o que é pior, nem todos os países o fazem. Por sua vez, outros indicadores objetivam cobrir a totalidade dos países do mundo, enquanto outros mais focam limitadas regiões geográfico-culturais do mundo. Por conta disso, muitas das mensurações feitas sobre as desigualdades são enviesadas, o que dificulta comparar um país com outro.

         Não obstante, podemos listar alguns indicadores de desigualdade mensurados em, praticamente, todos os países do mundo. O 1º indicador, desigualdade de renda, conta com muitos bancos de dados, podendo ser subdividido em (a) produto interno bruto global do país, ou per capita, ajustável pelo poder paritário de compra; (b) produto doméstico grosso e (c) Índice Gini, que varia de 0 (perfeita igualdade) a 1 (perfeita desigualdade). O 2º indicador, pobreza, pode ser avaliado pela porcentagem da população vivendo com menos de 1,5 dólar por dia ou pela porcentagem da população vivendo com menos de 2 dólares por dia. O 3º indicador, educação terciária, engloba a porcentagem de adultos alfabetizados de 15 anos de idade para mais, a porcentagem de matrícula no ensino secundário e superior. O 4º indicador, saúde, pode ser mensurado pela taxa de mortalidade infantil em crianças abaixo de cinco anos (por mil nascimentos vivos) e pela taxa de mortalidade maternal (estimada por cem mil nascimentos vivos). O 5º indicador, expectativa de vida, indica quanto tempo as pessoas estimam que viverão (a partir de seu nascimento).

         O 6º indicador, nutrição, avalia a prevalência da má nutrição em porcentagem da população num dado ano, ou a prevalência da má nutrição infantil em porcentagem das crianças abaixo de 5 anos, num dado ano. O 7º indicador, sanitarismo, indica o número de domicílios com acesso à agua potável e demais facilidades de acesso ao mesmo (ambos fornecidos em porcentagem da população por ano). O 8º indicador, corrupção, é mensurado pela transparência internacional através do índice de percepção da corrupção, que varia de 0 a 100 (zero indicando país altamente corrupto e cem indicando país isento de corrupção). Aqui, com corrupção sendo definida como o mau uso do poder público para benefício privado. O 9º, e último, indicador é democracia, importante devido à interpretação de que democracia fornece melhores condições de vida para os cidadãos do que sistemas autocráticos. Nele, duas dimensões são avaliadas: competição e participação, aferidas numa escala de 1 a 100 (1 significando totalmente autocrático e 100 totalmente democrático).

         Em geral, todos os indicadores são avaliados anualmente em vários países, com os resultados publicados em bancos de dados específicos da nação (como por exemplo: IBGE, IPEA), ou mesmo em bancos de dados internacionais (Banco Mundial, ONU, OECD, etc). Tomados em conjunto, ainda que de natureza diversificada, capturam diferentes facetas da desigualdade humana, podendo revelar disparidades das condições humanas de diferentes, e relevantes, perspectivas. Cabe, portanto, aos estudiosos do assunto, não só especificar os indicadores, como, também, procurar entender as causas e consequências das mesmas, para que políticas públicas possam, no mínimo, reduzir tais desigualdades, entendidas, muitas delas, como intratáveis, daí diabólicas.

Compartilhar: