As faces diabólicas da desigualdade humana (XII)

As faces diabólicas da desigualdade humana (XII)

           Os numerosos estudos sobre desigualdade humana, aqui revisados, consideraram fatores geográficos, culturais, institucionais e, até mesmo, motivacionais que vem sendo utilizados, especificamente, para explicar as disparidades globais e a pobreza. Entretanto, os mesmos não consideraram, em nenhum momento, a possibilidade de que possam existir conexões causais significativas entre a diversidade humana, inteligência e os vários indicadores das disparidades das condições humanas, tanto entre países, quanto entre sociedades.

            Em relação às disparidades entre países, estudos recentes, realizados por economistas, psicólogos, sociólogos e cientistas políticos têm testado a hipótese de que há uma alta correlação entre o QI nacional e variados indicadores de desigualdade entre aqueles. Neste contexto, assume-se que, nações mais inteligentes são, usualmente, mais hábeis em estabelecer, e manter, melhores condições humanas para seus cidadãos do que nações menos inteligentes. Um exemplo? Um estudo realizado por Tatu Vanhanen, “Global inequality as a consequence os human diversity”, testou a hipótese acima, demonstrando que os indicadores renda per capita, educação superior, taxa de mortalidade infantil, expectativa de vida, porcentagem da população com acesso à agua potável e o índice de democratização foram correlacionados com o QI médio de 178 países com, respectivamente, os seguintes valores: 0,65; 0,79; 0,80; 0,82; 0,73 e 0,56. No mesmo estudo, o autor também demonstrou que o QI médio dessas mesmas nações se correlacionou em 0,86 com um índice global de desigualdade gerado pela combinação dos seis indicadores mencionados previamente. Logo, fica claro que, tais correlações, tão elevadas, sustentam a hipótese de que as diferenças nas habilidades cognitivas entre as nações possam ser parcialmente responsáveis pelas grandes disparidades e ou desigualdades existentes entre elas. Parece-nos, então, que inteligência, refletida pelo QI nacional, faz a diferença.

            Por sua vez, em relação às substanciais diferenças existentes dentre as sociedades, realizamos um estudo, recentemente publicado em Mankind Quartely, Vol. 57, n. 4, Summer 2017, do Ulster Institute for Sociala Research, London (UK), no qual testamos a hipótese de que as habilidades cognitivas médias dos diferentes Estados brasileiros estariam altamente correlacionadas com diferentes indicadores de desigualdade de cada Estado. Estes indicadores foram: porcentagem da população com educação superior, renda per capita, mortalidade infantil, acesso à água potável, expectativa de vida, fertilidade, pobreza, violência em 2014 e violência em 2015. As habilidades cognitivas médias, em cada Estado, foram estimadas a partir do escore médio ponderado do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) dos anos 2009, 2012 e 2015. As correlações obtidas, respectivamente, foram: 0,74; 0,79; -0,88; 0,81; 0,88; -0,72; -0,87; -0,61; e -0,64. Correlações, estas, que comprovam que a inteligência média de cada Estado, refletida nos escores PISA, sustentam a ideia de que grande parcela das desigualdades que grassam pelos diferentes Estados brasileiros podem ser explicadas pela variabilidade da inteligência.

            Assim considerando, tanto no nível global, quanto no nível estadual, a inteligência média pode ser um fator determinante das desigualdades das condições humanas entre, e dentro, dos países. Motivo pelo qual, considerando a grande escala geográfica do Brasil, onde cada Estado tem o tamanho de um país europeu, a análise das desigualdades entre os Estados extrapola o interesse local. Nossos dados, e análise, apontam para a importância social, e política, de desenvolver as habilidades cognitivas das pessoas pelo fato de, elevando-as, de modo geral, as grandes disparidades de nossos Estados reduzirão, independente de quais indicadores considerarmos.

 

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