As faces diabólicas da desigualdade humana (XIII)

As faces diabólicas da desigualdade humana (XIII)

             Nas últimas semanas, muito falamos das abordagens sociológicas, históricas, econômicas, políticas, geográficas e filosóficas, entre outras mais, da desigualdade humana. Entretanto, a despeito da relevância de cada uma delas, não identificamos, em nenhuma, a focalização da inteligência como elemento responsável por tal desigualdade. Entretanto, tal qual existe variações na altura humana, no desempenho futebolístico e na composição das artes, entre outros, a diversidade cognitiva também existe e é, indiscutivelmente, um fato da natureza. Se considerarmos cada uma das populações que povoam o mundo, em cada uma delas a inteligência e a desigualdade dialogam em amplitude, fenótipo e genótipo, de forma a, guardadas as proporções, criarem, em conjunto, dilemas para sociedades democráticas.

            Desigualdade social se revela, então, como algo inevitável, respondendo por vantagens e desvantagens competitivas que, dependendo de como o cidadão usa seus talentos naturais, pode vir a garantir, ou não, resultados (des)iguais em sociedades similares ou extremamente diferentes. Entretanto, acenar, cegamente convictos, a bandeira da “igualdade” para expressar a crença de que excelência educacional, e igualdade de resultados, são objetivos mutuamente reforçadores, e nunca conflitantes, é ignorar todo o conhecimento de décadas.

            Embora democracias não possam eliminar desigualdade das condições humanas, por certo podem, entretanto, encontrar meios melhores, e mais apropriados, para modulá-la. Apontar que diversidade cognitiva contribui para seu dilema não sinaliza que inteligência é “totalmente importante”, ou que poderia ser. Todavia, quanto mais importante desigualdade econômica for para nós, tanto mais nos cabem entender suas raízes na diversidade biológica humana e inteligência, em particular. Atualmente, pensar o papel da tecnologia neste contexto é fundamental.

            As novas tecnologias da comunicação, criam, segundo a obra “Tecnopólio: a rendição da cultura à tecnologia”, de Neil Postman, novas definições para velhos termos, em um processo que ocorre sem que tenhamos consciência dele. Nas palavras de seu autor “... a tecnologia se apodera imperiosamente de nossa terminologia mais importante. Ela redefine liberdade, verdade, inteligência, fato, sabedoria, memória, história – todas as palavras com que vivemos. E ela não pára para nos contar. E nós não paramos para perguntar”. Neste contexto, permitir que os seres humanos conjuguem suas imaginações e inteligências a serviço do desenvolvimento, e da emancipação, das pessoas é o melhor uso possível das tecnologias digitais face ao imperialismo das desigualdades humanas.

            Talvez, modelos econômicos voltados à ênfase de coerência interna, compromisso público e respeito aos direitos humanos sejam os próximos, e necessários, passos para a reinvenção do equilíbrio social. Se isso é quimérico, ou não, caberá ao futuro julgar.

 

 

 

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