Neurociência da Educação 3

Neurociência da Educação 3

          O termo “neuromito”, cunhado pela Organização Europeia para o Desenvolvimento Econômico (OECD), espelhando o conhecimento que temos sobre o desenvolvimento do cérebro, sugere a facilidade, e a rapidez, com que achados científicos podem ser traduzidos em má informação, considerando o que a neurociência pode oferecer para a educação. O relatório da OECD descreve com profundidade três grandes neuromitos, popularizados nas arenas educacionais e na mídia falada e escrita.

            O primeiro neuromito é a crença de que diferenças hemisféricas se relacionam a diferentes tipos de aprendizagem, tal como, cérebro direito versus cérebro esquerdo. Esta ideia surgiu do conhecimento de que algumas habilidades cognitivas parecem estar diferencialmente localizadas em hemisféricos específicos. Por exemplo, as funções da linguagem são tipicamente suportadas por regiões cerebrais do hemisfério esquerdo em pessoas saudáveis destras. Todavia, uma grande quantidade de conexões nervosas conecta os dois hemisférios cerebrais em indivíduos neurologicamente saudáveis. Cada habilidade cognitiva que tem sido investigada usando técnicas de neuroimagem empregam uma rede de regiões cerebrais espalhadas ao longo de ambos os hemisférios cerebrais, incluindo linguagem e leitura, de modo que não existem evidências para qualquer tipo de aprendizagem que seja específico de um lado do cérebro. Logo, este mito é falso.

            O segundo neuromito reside na crença de que haja períodos ótimos para certos tipos de aprendizagem ao longo do desenvolvimento. Na realidade, o que existe são mais períodos sensitivos do que períodos críticos. O termo período crítico implicando que a oportunidade para aprender seja totalmente perdida se a janela biológica não é utilizada. De fato, não há nenhuma habilidade cognitiva que possa ser perdida no início da vida. O que há, de fato, é que alguns aspectos do processamento complexo de informação sofram mais do que outros da privação inicial da estimulação ambiental, por exemplo, percepção de profundidade na visão e aprendizagem gramatical na linguagem, mas, não obstante, a aprendizagem ainda é possível. Isso significa que, em alguns períodos mais sensíveis, o desempenho para a aquisição da linguagem é melhor do que em outros períodos, mas a existência de um período mais sensitivo não significa que os adultos sejam incapazes de adquirir habilidades numa linguagem estrangeira, posteriormente, na vida.

            O terceiro neuromito diz respeito à sinaptogênese, na qual períodos intensos de conexões sinápticas estariam correlacionados com o aparecimento de certas funções, e habilidades, cognitivas, tais como, fixação visual, captura de objeto, memória funcional e uso simbólico. Todavia, a literatura emanada da neurociência tem mostrado que estas habilidades continuam a se desenvolver muito bem após o período em que a sinaptogênese tenha, supostamente, terminado. Muitas dessas habilidades continuam a melhorar mesmo após a densidade sináptica ter alcançado níveis adultos, contexto, este, no qual o melhor que podemos dizer é que a sinaptogênese pode ser necessária para o surgimento dessas habilidades. Entretanto, ela não pode explicar inteiramente o seu refinamento contínuo. Algumas outras formas de mudanças cerebrais podem contribuir para a aprendizagem vindoura.

            Muitos outros neuromitos podem, ainda, ser encontrados na mídia. Como exemplo, a ideia de que uma pessoa tem um cérebro feminino ou masculino, os quais se referem mais às diferenças dos estilos cognitivos do que às diferenças biológicas para aprender. Esse neuromito também é falso. Concluindo, o que precisamos, de fato, endereçar e sustentar, é que, todo processo de ensinagem, e aprendizagem, deve ser baseado em evidências científicas claramente corroboradas. Isto significa que uma interação entre neurociência e educação se faz prontamente necessária. Vamos rapidamente a elas. Logo, cuidado com os mitos, educadores.

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