O papel da herdabilidade no letramento e numeramento

O papel da herdabilidade no letramento e numeramento

            Você sabe qual é o papel da herdabilidade no letramento e numeramento do Ensino Fundamental? Seria a inteligência mais herdável que o letramento e numeramento? Embora governos variados despendam enormes quantias na Educação, surpreendentemente, pouquíssimo é conhecido sobre as causas das diferenças individuais nos desempenhos educacionais. Pesquisas em geral têm focalizado diferenças entre grupos e, especialmente, diferenças entre países e entre escolas dentro de países, mais do que diferenças individuais, ainda que a amplitude de diferenças individuais dentro de qualquer um desses grupos de longe exceda as diferenças médias entre grupos.

            Pelo fato de letramento (leitura) e numeramento (matemática) serem alvos da Educação nas séries iniciais, seria razoável supor que ambas sejam menos herdáveis do que a habilidade cognitiva geral, isto é, inteligência, a qual não é diretamente ensinada, ainda que seja assumida ser uma aptidão inerente ao indivíduo.

            Além disso, outra razão para entender que letramento e numeramento sejam menos herdáveis que inteligência é o fato de ambos serem invenções humanas relativamente recentes, enquanto raciocínio abstrato e solução de problemas, ambos processos centrais à inteligência, pareçam ser fundamentais para a evolução humana.

            Estudos iniciais sobre Genética do Comportamento suportam a suposição de que leitura e matemática sejam menos herdáveis do que habilidade cognitiva geral na infância. Especificamente, inteligência geral é um dos traços mais bem estudados, e a evidência entre vários estudos indica que ela tem um coeficiente de herdabilidade de, aproximadamente, 0,50 ( variação de 0 a 1), e, quanto mais elevada, maior a influência genética.

            Por outro lado, estudos iniciais sobre desempenho escolar, embora menos frequentemente estudado do que inteligência geral, sugerem menor herdabilidade. Por exemplo, estudos envolvendo mais de dois mil pares de gêmeos encontraram coeficiente de herdabilidade de, aproximadamente, 0,40 para os desempenhos em inglês e matemática. Estudos recentes sobre desempenho escolar, envolvendo mais que 2500 pares de gêmeos, têm revelado coeficiente de herdabilidade de aproximadamente 0,65 para letramento e numeramento nas séries iniciais e baixa herdabilidade, de 0,35, para inteligência geral.

            Razão adicional para suspeitar que a herdabilidade da inteligência geral possa ser menor que a herdabilidade para letramento e numeramento na infância é que a herdabilidade aumenta na infância e não atinge o valor amplamente registrado de 0,50 até o fim da adolescência.

            Para resolver definitivamente essa questão um grupo de pesquisadores diretamente comparou os coeficientes de herdabilidade de múltiplas medidas de letramento, numeramento e inteligência geral na Grã-Bretanha numa amostra de 7500 pares de gêmeos, avaliados longitudinalmente nas idades de 7, 9 e 12 anos. Para o letramento, três áreas de desempenho foram avaliadas: leitura, fala e audição e escrita. Analogamente, o desempenho em letramento foi avaliado em três áreas: uso e aplicação de matemática (computação e conhecimento), números e álgebra (entendimento de números) e formas, espaço e medidas (processos não numéricos). No caso da habilidade cognitiva geral, inteligência, testes verbais e não verbais foram aplicados em todas as faixas etárias.

            Os dados mostraram que diferenças entre as crianças foram significativa e substancialmente mais herdáveis para letramento e numeramento do que para inteligência geral na idade de 7 e 9 anos, mas não para a idade de 12 anos. Pesquisadores sugeriram que a razão para este aparentemente contraintuitivo resultado é que a educação universal, nas séries escolares iniciais, reduz as disparidades ambientais, de maneira que, as diferenças individuais que permanecem são em maior extensão devido às diferenças genéticas. Contrastando, a herdabilidade da inteligência geral aumenta durante o desenvolvimento quando os indivíduos selecionam e criam seus próprios ambientes, correlacionados com suas pré-disposições genéticas.

            Desta forma, tais resultados sugerem que a Educação deve ser repensada. Se as hipóteses dos autores estiverem corretas, ensinar as habilidades básicas de letramento e numeramento nas séries escolásticas iniciais, substancialmente, erradica as disparidades ambientais, deixando a genética como a causa primeira das diferenças individuais nessas habilidades entre as crianças.

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