Os desafios de estudar a percepção do tempo (16): TDAH

Os desafios de estudar a percepção do tempo (16): TDAH

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um problema persistente de desatenção que, algumas vezes, é acompanhado de hiperatividade que interfere no funcionamento sistêmico normal, bem como, no desenvolvimento do indivíduo. Em outras palavras, as pessoas com TDAH podem encontrar dificuldades em se organizar, manterem-se focadas em uma determinada tarefa, tornando-se distraídas e frequentemente experenciando procrastinação, a saber, deixando para amanhã o que poderiam fazer no momento atual. Esse problema cognitivo compromete as chances de sucesso na escola e no trabalho e, até mesmo, ocasiona alterações emocionais, de relacionamento e financeiras. Considerando a importância da atenção na percepção de tempo, não surpreende saber que as habilidades de estimação temporal das pessoas com TDAH sejam, por este transtorno, afetadas.

         Há numerosos estudos mostrando que pessoas com TDAH apresentam déficits no processamento de informação temporal. De fato, uma detalhada revisão da literatura que investigou as diferenças entre um grupo controle e outro, com TDAH, registrou que 5 de 6 desses estudos envolveram discriminação de intervalos. Em 12 dos 13 estudos envolveram reprodução de intervalo. E em 7 de 8 estudos foram tarefas que requereram tanto a adoção de um tempo espontâneo, quanto a sincronização com um estímulo interno e a sincronização seguida por continuidade. Desde então, muitos outros estudos têm mostrado diferenças salientes entre os dois grupos no processamento de informação temporal. Em geral, os resultados têm mostrado que, comparado aos participantes de um grupo controle, os participantes com TDAH superestimam a duração tanto em condições em que os estímulos são apresentados em formas visuais quanto em formas auditivas. Em adição, os participantes do grupo TDAH registraram um limiar diferencial muito mais elevado (são menos sensíveis ao tempo) tanto em condições visuais quanto auditivas. Uma interpretação avançada para explicar os resultados mais pobres dos participantes com TDAH é que os mesmos manifestam uma menor eficiência de mecanismos atentivos (parecendo faltar-lhes uma chave de conexão) e, também, de fracasso nos processos de memória envolvidos na tarefa de bissecção de intervalo requerida ao longo do estudo.

         Em outro estudo interessante, os pesquisadores solicitaram aos participantes com ou sem TDAH para completarem a trajetória de um movimento que eles perceberam após verem um retângulo aparecendo por cem milisegundos em dois lugares. Quando a duração entre as apresentações dos retângulos foi de 200, 300, 500 ou 1100 milisegundos, as trajetórias formam percebidas corretamente pelos dois grupos, ou seja, a integração temporal foi feita corretamente por ambos os grupos. Todavia, quando a duração entre apresentações do retângulo foi de 2300 milisegundos, os participantes de ambos os grupos fracassaram em integrar a informação apropriada no tempo. Finalmente, diferente dos participantes com TDAH, quando a duração foi de 1700 milisegundos, os participantes do grupo controle mostraram capacidade de integração social. Os estudiosos interpretaram, a partir desses dados, que a escala de tempo, que dita a taxa de declínio na força da associação entre estímulos, estaria comprimida nas pessoas com TDAH.

         Outros estudos interessantes referem-se às pesquisas relacionadas a tomadas de decisão ou à capacidade de pessoas inferirem consequências futuras. De fato, inúmeros estudos têm mostrado que as pessoas com TDAH têm algum tipo de “miopia temporal”, ou seja, elas são focadas, ou capturadas, apenas pelos estímulos do presente. Neste caso, elas encontram dificuldade em manipular a informação sobre risco e manifestam certa aversão para esperar; aversão, esta, mostrada pela predisposição para escolher as opções que emergem inicialmente.

         Segundo Simon Grondin em seu livro “The perception of time: your questions answered” (2020), tomados juntos, os estudos indicam que as diferenças entre grupos-controle e grupos com TDAH poderiam ser explicadas pelas diferenças no envolvimento das estruturas cerebrais responsáveis pelo processamento de informação temporal. Também, em particular, processos atentivos e mnemônicos parecem ser relevantes.

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