Psicologia da Saúde Mental (1): Conceitos e Indicadores

Psicologia da Saúde Mental (1): Conceitos e Indicadores

Há diferentes tipos de desordens psicológicas, cada um deles causado pela interação de diferentes fatores considerados a partir de variadas e diferentes perspectivas. Os estudiosos do campo da Saúde Mental, ou da Psicologia do Anormal, usualmente consideram uma abordagem biopsicossocial com o proposito de prover uma apreciação sofisticada e compreensiva do contexto total no qual as anormalidades do comportamento ocorrem. Em outras palavras, os estudiosos analisam e discutem a ampla variedade de fatores biológicos, psicológicos, sociais e culturais que trabalham juntos para levar ao desenvolvimento das desordens psicológicas. Assim considerando, Psicologia da Saúde Mental está preocupada com o entendimento da natureza, das causas e dos tratamentos das desordens mentais contextualizadas em nosso cotidiano.

                O Manual de Diagnóstico e Estatística das Desordens Mentais (DSM-5) é uma obra que fornece todas as informações necessárias sobre o assunto, nelas incluindo descrições e listas de sintomas voltados à identificação e diagnóstico das desordens mentais. Como tal, o Manual fornece aos clínicos critérios para os diagnósticos específicos de cada desordem apresentada. A importância disso? Criar um vocabulário comum para que um diagnóstico específico signifique a mesma coisa para diferentes especialidades clínicas. Ademais, fornece informações descritivas sobre o tipo e o número de sintomas necessários para cada diagnóstico, visando garantir a acurácia e a consistência dos mesmos.

                Segundo o Manual, uma desordem mental é definida como uma síndrome que está presente em um indivíduo e que envolve perturbações clinicamente significativas no comportamento, na regulação das emoções ou no funcionamento cognitivo. Estas perturbações são entendidas refletirem uma disfunção nos processos biológicos, psicológicos ou evolutivos. O DSM-5 também reconhece que desordens mentais são usualmente associadas com estresse significativo ou incapacidade em áreas fundamentais do funcionamento, tais como atividades sociais, ocupacionais ou outras atividades. É também importante considerar que este padrão disfuncional de comportamento não decorra de desvios sociais ou conflitos que a pessoa tem com a sociedade como um todo. Entretanto, a despeito da fidedignidade e do amplo uso do Manual, ainda não existe um consenso universal sobre o que significa anormalidade ou desordem mental. Não estamos dizendo com isso que não haja definições sobre as mesmas. Existem várias. O que estamos dizendo é que uma única definição completamente satisfatória provavelmente sempre permanecerá elusiva.

                Por que uma definição de desordem mental apresenta muitos desafios? Porque não há um único comportamento que faz com que uma pessoa seja considerada anormal. Todavia, há alguns elementos-chave, chamados indicadores, que pontuam uma determinada anormalidade em um indivíduo. Logo, nenhum simples indicador é suficiente, por si próprio, para definir, ou determinar, uma anormalidade. Não obstante, quando uma pessoa tem dificuldades numa dada área comportamental, é muito mais provável que ela tenha uma desordem mental. Segundo Hooley et al, em Abnormal Psychology (Pearson, 2021), há alguns indicadores que podem melhorar a validade, a consistência e a fidedignidade da avaliação diagnóstica de uma condição clínica mental dos indivíduos. Vamos a eles.

                Primeiro: estresse subjetivo. Se uma pessoa sofre ou experiencia dor psicológica estamos inclinados a considerar isso como um indicativo de anormalidade. Pessoas com depressão claramente registram estarem estressadas, bem como, pessoas com desordem de ansiedade. Embora o estresse subjetivo seja um elemento de anormalidade em muitos casos, ele não é uma condição suficiente, ou seja, tudo o que é necessário, nem mesmo uma condição necessária, para determinar todos os casos de anormalidades as quais consideramos como anormal. Segundo: falta de adaptabilidade. Comportamento mal adaptativo é frequentemente um indicador de anormalidade. A pessoa com anorexia pode restringir seu consumo de alimento até o ponto em que torna-se tão inapetente que necessita ser hospitalizada. A pessoa com depressão pode fugir do contato com amigos e familiares, bem como, de serem incapazes de trabalhar por semanas e meses. Comportamento mal adaptativo interfere com o bem-estar humano e com a habilidade para apreciar nosso trabalho e nossos relacionamentos. Mas, nem todas as desordens envolvem comportamento mal adaptativo.

                Terceiro: desvio estatístico. A palavra anormal literalmente significa fora do normal, mas simplesmente considerar um comportamento estatisticamente raro como sendo anormal não nos fornece uma solução para o problema de definir anormalidade. Um exemplo? Os gênios e os talentosos são estatisticamente raros, mas tal fato não significa que eles sejam anormais de algum modo. Por outro lado, incapacidade intelectual, que é estatisticamente raro, e representa um desvio do normal, é considerado refletir anormalidade. Quatro: violação dos padrões da sociedade. Todas as culturas têm regras. Algumas formalizadas como leis. Outras formadoras de normas ou padrões morais que somos ensinados a seguir. Embora muitas normas sociais sejam arbitrárias em alguma extensão, quando as pessoas fracassam em seguir as regras e convenções sociais morais de seu grupo social, podemos considerar seu comportamento como anormal. Mas, para outras culturas, tais comportamentos podem ser considerados normais. Naturalmente, tais comportamentos dependem da magnitude da violação e de quão comumente a regra é violada pelos outros.

                Quinto: desconforto social. Nem todas as regras são explícitas, nem todas as regras nos incomodam quando são violadas. Não obstante, quando alguém viola uma regra social implícita ou não escrita, aqueles ao redor dessa pessoa podem demonstrar um desconforto ou constrangimento. Sexto: irracionalidade e imprevisibilidade. Nós esperamos que as pessoas se comportem de certa maneira, mas, embora um pouco de inconvencionalidade possa ser, de algum modo, permitida, há um ponto em que, provavelmente, consideramos um dado comportamento não ortodoxo como anormal. Um exemplo? A fala desordenada e o comportamento desorganizado de pacientes com esquizofrenia são frequentemente irracionais. Tais comportamentos são também marcantes na fase maníaca da desordem bipolar. Não obstante, e talvez o fator mais importante, seja nossa avaliação de verificar se a pessoa pode controlar tal comportamento. Sétimo: periculosidade. Parece razoável pensar que alguém que é perigoso para si próprio e para outra pessoa deva ser psicologicamente anormal. De fato, os terapeutas são requeridos a hospitalizar pacientes com ideações suicidas, ou contatar a polícia para tal, assim como, alertar a pessoa que é alvo de ameaça para que assim o faça caso sofra ameaças explícitas de ser atacada ou ferida por outra pessoa.

                Logo, decisões sobre o que seja um comportamento anormal sempre envolvem julgamentos sociais, baseados em valores e expectativas da sociedade como um todo. Isso significa que cultura desempenha um papel em determinar o que é e o que não é anormal.

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