A Teoria triárquica da inteligência de Sternberg

A Teoria triárquica da inteligência de Sternberg

Robert Sternberg e colaboradores (ver Inteligência: Resultado da Genética, do Ambiente ou de Ambos? Lovise, SP: 2003) argumentam que várias inteligências, incluindo a analítica (tácita), a prática e a criativa. A teoria descreve inegavelmente importantes habilidades, conhecimentos e realizações, mas sugere que ‘g’, se existe, é apenas mais uma das várias habilidades coexistentes, e igual às demais. Sternberg aparentemente parece ignorar o fator ‘g’, ou mais corretamente, parece colocá-lo num segundo plano, apesar de ter editado um volume especial dedicado à generalidade de ‘g’, sugerem que existe um fator geral de inteligência prática que é distinto da inteligência acadêmica (g), e que prediz futuros sucessos tão bem quanto ‘g’, se não muito melhor. A teoria propõe dois argumentos principais contrários a ‘g’: (1) há outras amplas habilidades mentais (inteligências), além de ‘g’, e (2) o valor funcional de ‘g’ na vida real é limitado primariamente às tarefas acadêmicas. Além disso, a teoria frequentemente sugere que todas as pessoas são talentosas de alguma forma. Isto é, todos têm inteligência em potencial e, talvez, por causa disso ela tem alcançado grande aceitação na mídia e na população leiga.

         A questão central, todavia, é se a “inteligência” que essa teoria descreve é realmente comparável a ‘g’ em qualquer aspecto fundamental. Por exemplo, inteligência prática é igual a “esperteza no cotidiano”, e parece consistir do conhecimento localizado e desenvolvido em função da experiência não tutorada (fora do ambiente escolar) produto das atividades e contextos diários particulares.  Ao contrário, inteligência geral não é uma forma de realização, se local ou renomada. Em vez disso, o fator ‘g’ regula a taxa de aprendizagem: ele substancialmente afeta a taxa de retorno em conhecer a instrução e a aprendizagem, mas não pode substituir a ambos.

        Uma dissecação da teoria triárquica da inteligência bem como uma análise da validade de construto do teste de habilidades triárquicas (Sternberg Triarchic Abilities Test – STAT) propostos por Sternberg, feitas por estudiosos da inteligência, revelam que as habilidades triárquicas são substancialmente relacionadas uma com a outra. Sternberg e colaboradores, porém, sustentam que as três habilidades são independentes. Contudo, essas conclusões diferentes derivam-se principalmente das diferentes interpretações das covariâncias entre as medidas de escolhas-múltiplas das habilidades triárquicas. Se cada uma das medidas das habilidades contém a variância de g, elas estariam correlacionadas uma com a outra. Removendo-se as covariâncias entre as medidas de múltiplas-escolhas, remove-se a variância de ‘g’ que está presente em cada uma das medidas. Na realidade, as covariâncias representam ‘g’, e dada essa interpretação, a independência entre as três habilidades nada mais é do que uma consequência direta da remoção de ‘g’. Portanto, não há nada de extraordinário no achado de que as habilidades são relativamente independentes se a fonte principal da relação entre as habilidades, o ‘g’, é removida. Ao lado disso, Sternberg e colaboradores fracassaram em considerar os efeitos da restrição da amplitude do QI em suas amostras (estudantes de pós-graduação, professores de psicologia, gerentes com um QI acima do 90º percentil, e assim por diante). Ao usarem uma pequena amostra de pessoas com escores bastante altos, e análises que podem virtualmente pré-excluírem a manifestação de um “fator”. geral, eles, na prática, removeram a influência de ‘g’ nas diferenças individuais em todas as habilidades estudadas.

        Perguntando de outra forma, são estas habilidades de fato inteligências, ou podem ser elas produtos (literário, científico ou artístico) do exercício de ‘g’, juntamente com habilidades específicas em contextos específicos com tipos específicos de treinamento e experiência?  Ainda, são estas habilidades mentais comparáveis a ‘g’ em sua aplicabilidade geral?  Quando estas inteligências são, de alguma forma, mensuradas, nenhuma delas tem se mostrado independente de ‘g’ nas amostras representativas da população. Aliás, descrições verbais delas deixam muitos estudiosos duvidosos de que elas sejam comparáveis a ‘g’ em qualquer aspecto importante.

         Finalmente, a análise confirmatória registrada por Sternberg e colaboradores fornece evidência em favor da teoria que gerou o teste que eles empregaram, mas deve-se notar, todavia, que as habilidades triárquicas de segunda-ordem não são independentes uma da outra. Eles obtiveram correlações entre fatores prático e analítico de 0,93, entre os fatores analítico e criativo de 0,85, e entre os fatores prático e criativo de 0,72.  Assim, o ajuste superior do modelo triárquico ocorre apenas onde as habilidades triárquicas estão substancialmente relacionadas uma com a outra. Portanto, a presença de nítidas correlações entre fatores de segunda-ordem latentes, implica um modelo que assume que os fatores de segunda-ordem estão correlacionados a um simples fator ‘g’ num terceiro nível, e, portanto, fornece uma descrição adequada da estrutura do Teste de Habilidades Triárquicas de Sternberg (STAT). As saturações dos fatores analítico, criativo e prático com o fator ‘g’ são 0,984, 0,939 e 0,906, respectivamente. O fator ‘g’ isoladamente explica 89% da variância. Este modelo não descarta a presença de ‘g’ na variância do Teste. Considerando as fortes relações entre os fatores de segunda-ordem, o modelo é compatível com a suposição de que a variância de ‘g’ no Teste (isto é, as relações compartilhadas entre os fatores latentes independentes) é muito maior do que os componentes da variância nos traços latentes que são independentes um do outro.

          Em resumo, cada uma das habilidades ou inteligências propostas por Sternberg está relacionada a uma medida convencional de ‘g’, isto é, está altamente saturada de ‘g’. Se esta medida é interpretada como ‘g’, então ela constitui a maior fonte de variância das habilidades descritas por Sternberg. E, portanto, as correlações entre todas as habilidades parecem refletir este fator de inteligência geral, ou ‘g’, a despeito da crença de Sternberg de que isso não ocorre.

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