
A Ilusão da Lua
O fenômeno e os fatos
Nesta semana de lua cheia, mais bela neste inverno que recentemente se iniciou, o leitor atento deve ter observado um fascinante e intrigante fenômeno perceptual que ocorre cotidianamente em nosso ambiente. Este fenômeno é chamado Ilusão da Lua e se constitui numa das mais famosas ilusões visuais. Para a maioria das pessoas a lua parece muito maior no horizonte do que quando elevada em céu aberto (zênite). Para muitos outros ela parece, além de maior, mais próxima no horizonte do que no zênite. Algumas pessoas chegam a julgá-la como duas vezes maior, mas em média, as estimativas variam de 50 a 75%. Mesmo em crianças que ainda não desenvolveram o mesmo modelo de representação visual de espaço do adulto, a ilusão está presente e é algumas vezes registrada como mais forte e mais intensa do que em adultos. Estes dados indicam que este efeito não é pequeno.
Este mesmo fenômeno ocorre com o sol, mas observar o sol diretamente torna-se perigoso sem as devidas precauções. Esta ilusão tem intrigado e deixado as pessoas perplexas desde a antiguidade. Os primeiros registros fidedignos datam do Século VII a.C., mas ela também foi comentada nos antigos escritos dos gregos e dos chineses nos Séculos I e II a.C.. Aristóteles, em 322 a.C., também tratou desse fenômeno em seu livro acerca da meteorologia.
As explicações
A lua no horizonte ou no zênite tem o mesmo tamanho (+ 3.476 km) e está a mesma distância física (+ 384.403 km) do observador na terra. Ela subentende sempre um ângulo de 0,52º, de modo que a imagem na retina é sempre a mesma. Este fenômeno não pode ser explicado pelas diferenças na refração baseada nas diferenças no ângulo de incidência na atmosfera terrestre, tal como muitas pessoas acreditam, porque fotografias da lua, tiradas em diferentes elevações, não produzem diferenças mensuráveis. Muitos fotógrafos ficam desapontados e frustrados quando suas fotos são reveladas. Deste modo, fotografias mostrando a lua, com diferentes tamanhos no horizonte e no zênite, são montagens especiais.
Outro experimento simples que pode ser realizado em ambiente doméstico também mostra que a lua tem o mesmo tamanho. Para isto o leitor deve pegar uma simples folha de papel e nela fazer um buraco pequeno igual ao diâmetro de um lápis. Em seguida olhe para a lua no horizonte e movimente a folha de papel até que a lua preencha todo o diâmetro do buraco, mas sem que o horizonte seja visto. O leitor constatará facilmente que a distância em que a lua no horizonte preenche todo o diâmetro do buraco do papel é igual a distância em que a lua no zênite também preencherá o mesmo espaço. Em outras palavras, em ambas as situações a visão da lua preencherá o mesmo tamanho do buraco. Isto indica que a lua tem o mesmo tamanho e o mesmo ângulo visual independente de sua elevação angular. Todavia, se o leitor observar a lua no horizonte com um olho fixado no buraco (sem ver o horizonte), enquanto o outro olho observa a lua e o horizonte ao mesmo tempo, constatará surpreendentemente que cada olho verá uma lua de diferente tamanho. A ilusão persiste mesmo quando, observada numa noite escura no oceano, assim como quando pilotos estão voando alto, acima das nuvens. Assim, tamanhos conhecidos de objetos posicionados na terra não podem ser tomados para explicarem esta ilusão. Quando o horizonte é percebido como mais distante, tal como ocorre no maravilhoso pôr-do-sol no continente africano, ou mesmo em alto mar, a lua parece muito e muito maior do que quando vista em outras condições em que o horizonte parece mais próximo, mais visível, por exemplo, numa montanha. Por que isto ocorre? Quais as causas deste intrigante fenômeno visual?
As teorias
O efeito é simplesmente uma ilusão. É uma ilusão porque imagens retinianas de tamanhos iguais produzem percepções de tamanhos substancialmente diferentes baseadas unicamente em diferenças na direção percebida. Objetivamente, a lua no horizonte é vista num ponto onde o terreno encontra-se com o céu, enquanto a lua elevada no zênite é vista rodeada pelo céu vazio por todos os seus lados, distante do terreno e do horizonte. A presença do terreno cria a impressão de que a lua no horizonte está mais distante do que a lua no zênite, porque o espaço preenchido entre o observador e o horizonte produz uma impressão de maior prolongamento do que o espaço não preenchido entre o observador e o céu acima da cabeça. Se isto for verdadeiro, e baseado na teoria da geometria do ângulo visual, segue-se que a lua no horizonte parece maior que a lua elevada em céu aberto. Porém, muitas pessoas têm dificuldade em aceitar esta explicação, pois registram, invariavelmente, um resultado paradoxal: a lua no horizonte, além de maior, parece também próxima.
De fato, se um objeto é percebido como distante ele também deverá ser percebido como menor, e não maior como ocorre com a lua. Esta confusão repousa no fato de que no caso da lua, o tamanho da imagem retiniana, ou ângulo visual, permanece inalterado. Isto requereria um objeto maior para produzir a mesma imagem retiniana a partir de uma distância maior.
Independente da elevação, a distância entre um observador (no centro da linha horizontal) e a lua permanece constante (círculos vazios). A lua é percebida como mais próxima quando sua elevação aumenta (círculos cheios) e, portanto, deve ser percebida também como menor.
Diferentes teorias têm sido elaboradas para explicar a ilusão da lua. Há as teóricas inferências que se baseiam na constância de tamanho em que os objetos tendem a ser percebidos, como de tamanhos iguais independentes de mudanças na distância e no tamanho da imagem retiniana. Há as teorias contextuais que supõem que os julgamentos de tamanho são influenciados pelo contexto ambiental e pelos indícios perceptuais nos quais o objeto está rodeado. Há as teorias que enfatizam o papel do tamanho angular e o efeito da interação entre contraste e assimilação. Há as teorias que enfatizam os mecanismos oculomotores que afetam o ponto focal; os processos oculomotores, denominados macropsia e micropsia, são combinados para explicarem as diferenças no tamanho percebido da lua no horizonte e no zênite. Há também as teorias que enfatizam as tendências do observador. A tendência para equidistância e a tendência para a distância específica são utilizadas para explicarem estas diferenças no tamanho percebido, bem como, explicarem os registros paradoxais reportados pela maioria das pessoas.
A teoria da relação tamanho-distância
Cada teoria é exemplificada por diferentes versões, mas todas refletem basicamente diferentes proposições de como o sistema perceptual computa tamanho e distância. A teoria mais aceita postula que a ilusão da lua pode ser explicada em termos da relação envolvendo tanto a percepção de tamanho quanto a percepção de distância. No caso da lua, o ângulo visual permanece constante, mas as distâncias são registradas como diferentes, causando, portanto, tamanho aparente variável. Em outras palavras, o cérebro automaticamente estima as distâncias dos objetos e então interpreta seus perspectivos tamanhos. Por exemplo, o pequeno tamanho percebido de um carro a grande distância permite-nos reconhecer que ele tem um tamanho normal, e não como tendo um tamanho de um carro de brinquedo.
Similarmente, os indícios visuais no terreno no qual repousa a lua no horizonte indicam que ela está posicionada a uma grande distância do observador. Esta estimativa de distância da lua inflaciona seu tamanho percebido. De outro lado, a lua elevada está situada num contexto com poucos ou sem qualquer indício, assim os observadores percebem-na como mais próxima e, portanto, menor.
Em resumo, as percepções de tamanho e de distância estão envolvidas na ilusão da lua. Deste modo, a ilusão da lua pode ser considerada como um caso especial da lei de Emmert, onde a distância registrada da lua no horizonte é maior do que a distância da lua no zênite, haja vista que o ângulo visual da lua, em diferentes elevações, permanece constante. De acordo com esta lei, o tamanho percebido de um objeto de tamanho angular constante é diretamente proporcional a sua distância aparente. Baseados nestas diferenças na distância registrada, nós, psicofísicos, podemos predizer a ilusão da lua mesmo para uma pessoa que nunca tivesse observado este fenômeno natural.
Assim, a lua que fascina os enamorados, tem também se enamorada dos psicofísicos que tentam decifrar os seus segredos e a sua ilusão ou suas ilusões.