
Agenda Ribeirão e Desenvolvimento Econômico
Recentemente, um renomado especialista em Economia, participando do Painel “Agenda Ribeirão”, no município, foi hábil em recomendar três fatores que, a seu ver, poderiam fomentar o desenvolvimento econômico regional e nacional, bem como, possibilitar, às empresas, sobreviverem à crise econômica que, por ora, perpassa o Brasil. O primeiro deles refere-se ao aumento da produtividade, o segundo, à inovação e o terceiro à forte concorrência que permeia o cenário empresarial nacional. Entretanto, surpreendeu-me, nestes comentários, a ingenuidade do mesmo em relação ao fator central que subjaz as três sugestões oriundas da palestra. Aparentemente, o renomado economista parece entender que os fatores sugeridos possam ser implementados num simples passe de mágica, resolvendo-se a situação com uma espécie de “varinha de condão”. Quero interpretar aqui o quanto essas três sugestões podem ser convergidas a um único fator: o capital cognitivo da nação.
Em relação ao aumento da produtividade, há inúmeros estudos indicando que o capital humano, traduzido pelo QI individual ou nacional, tem grande influência em todo tipo de produtividade. Um exemplo? Um aumento de 15 pontos no QI está associado a um aumento de, aproximadamente, 150% na produtividade. De fato, as correlações entre QIs nacionais e várias medidas de renda per capita variam de 0,79 a 0,92, padrão este que permanece estável em curtos ou longos períodos analisados, em diferentes nações e diferentes medidas da renda nacional per capita. Além do que, ser fato o QI nacional predizer satisfatoriamente as taxas de crescimento econômico ao longo de extensos períodos, como, por exemplo, nos anos de 1500 a 2000, para o qual a correlação é 0,71. Dados, estes, indicando que QI emerge enquanto determinante primordial das taxas de crescimento econômico, independente de variáveis como choque econômico, guerras, crise de combustíveis fósseis e outras mais.
Acerca da inovação, depreende-se da palestra do especialista que inovação é um constructo manifestado intuitivamente, verdadeiro insight, no indivíduo ou na nação, enquanto agregado de indivíduos. Ora, tem sido demonstrado por economistas cognitivistas que os vários indicadores do capital humano correlacionam-se, de forma moderada ou elevada, com o QI individual ou nacional. Exemplos para recordar? QI nacional correlaciona-se 0,87 com publicações acadêmicas; 0,51 com indicadores de patente; 0,83 com autonomia intelectual; 0,74 com excelência científico-tecnológica; 0,34 com concessão de prêmio Nobel em Ciência; 0,61 em relação ao número de cientistas e engenheiros trabalhando em pesquisa; e 0,38 em indicadores de exportação tecnológica, entre outros, lembrando, aqui, que a correlação máxima é um, ou seja, quanto mais próximo de 1, mais próximo da excelência. Ao lado disso, tem se mostrado, também, que o QI prediz diferenças no desenvolvimento econômico desde o ano 1000 A.C a 2000 D.C. Ademais, o desenvolvimento econômico das sociedades não depende, apenas, do nível médio do talento, mas, principalmente, da alocação do talento nesta. Sociedades que alocam, mais eficientemente, pessoas de diferentes talentos em postos estratégicos sendo mais bem sucedidas em termos econômicos. Alocação eficiente de talentos significando, portanto, que pessoas com mais alta habilidade desempenham mais eficazmente em empregos que demandam alta complexidade.
Em relação à forte concorrência que permeia o cenário empresarial nacional, a sugestão permite ser entendida, a meu ver, como gestão ou governança em nível empresarial privado e em nível governamental. Nestes contextos, inúmeros são os estudos indicando altas correlações entre os QIs nacionais e indicadores como extensão da democracia, eficiência da burocracia governamental, índice da percepção de corrupção e outros que envolvam instituições políticas. Um exemplo? As correlações serem todas negativas, variando entre -0,27 a -0,68, entre QIs nacionais e indicadores de corrupção, fato que pontua ser a corrupção mais prevalente em nações com baixo QI, sugerindo que pessoas inteligentes vêem horizontes mais distantes. Por adição, tem sido demonstrado que gestores inteligentes tendem a ser mais pacientes, numa teoria econômica que prediz que nações mais pacientes (pacientes, aqui, significando mais tolerantes e resilientes e, não, morosos) poupam e investem mais, edificando maior estoque de capital numa economia mundial fechada. Além do que, gestores com QI mais alto sendo, também, mais cooperativos, a partir do que inteligência provoca prosperidade através de diferentes canais públicos.
Assim considerando, no meu entender só há um mecanismo a partir do qual podemos fomentar o desenvolvimento econômico: fomentar o capital cognitivo das nações, tanto para elevá-lo, quanto para, elevar, especialmente, as habilidades específicas de leitura, escrita, matemática e ciência (o PISA) e, genuinamente, as habilidades de raciocinar abstratamente e comunicar-se coerentemente (o QI). Exemplo típico visto em nações asiáticas, as colméias, altamente desenvolvidas.