
Ambiência: o outro lado da moeda
A criação implica parentalidade, entretanto, efeitos não genéticos sobre a inteligência são mais amplos que isso. Por esta razão, embora a frase “natureza versus criação” seja usada regularmente, ela mais confunde do que explica, motivo pelo qual “genes versus ambiente” é mais apropriado, ainda que “ambiente” continue sendo termo vago. É vago porque nos estudos sobre gêmeos, ambiente é dividido em dois tipos, a saber, o ambiente compartilhado e o não-compartilhado. Compartilhado, responde por tudo que faz um gêmeo ser igual a outro. Exemplo? Estilo de parentalidade, número de livros na casa, classe social da vizinhança e muito mais. Não-compartilhado, responde por tudo que faz um gêmeo diferente do outro. Exemplo? Professores particulares, colegas de grupo ou de escola, bem como, vivências específicas que ocorrem a cada um dos membros dos pares de gêmeos.
O que é surpreendente, em tudo isso, é que, considerando todos os dados acerca dos estudos sobre gêmeos, o ambiente compartilhado parece ter um pequeno efeito sobre a inteligência. Se nós medirmos inteligência na maturidade, quase tudo sobre a variabilidade desses escores é explicado por uma combinação de genes e o ambiente não-compartilhado. Excluindo os casos de abuso ou abandono, as coisas que os pais fazem não parecem ter efeito relevante sobre a inteligência de suas crianças ao longo da vida. Em outras palavras, a principal razão de pais brilhantes tenderem a ter filhos brilhantes decorre dos genes que eles transmitem aos filhos, e não por causa das decisões sobre parentalidade.
Há uma outra complicação nesse contexto: herdabilidade pode diferir dependendo do ambiente, um processo conhecido como interação gene-ambiente. É óbvio que, se criássemos uma sociedade com nenhuma variação ambiental, na qual toda criança fosse criada identicamente, atendendo a escolas idênticas e tendo os mesmos amigos, nós verificaríamos uma alta herdabilidade, com o gene sendo a única coisa que variou. Por esse motivo, tem sido sugerido que a herdabilidade da inteligência pode ser observada como um indicador de quão igual é a nossa sociedade. Há evidência de que, pelo menos nos países destituídos de sistemas previdenciários extensivos, e, portanto, que tendem a ter maior disparidade em seus ambientes, herdabilidade revela ser mais alta nas crianças de famílias localizadas nos extremos mais elevados do contínuo das classes sociais. Pode ser assim que ambiente desprivilegiado limita, em algum grau, o potencial intelectual que subjaz os genes de uma criança.
Assim considerando, e visto os dois lados da moeda, gene e ambiente, caberia perguntar, então, quais são os genes para a inteligência. Desde que, frequentemente, genes tenham muitas funções, a pergunta mais apropriada seria, “Quais são os genes específicos para a inteligência?”, ou, ao menos, quais destes são os que estão conectados com a inteligência. Talvez esses genes estejam envolvidos em tornar o cérebro mais eficiente, talvez eles aumentem o número de neurônios ou melhorem sua estrutura, tornando a pessoa mais hábil para capitalizar os estímulos ambientais, tais como, educação, trabalho, etc. Encontrar esses genes seria interessante não, apenas, para entender, com maior profundidade, a biologia da inteligência, mas, principalmente, por razões médicas, tais como, podermos ser hábeis em usar teste genético para prever quem sofrerá mais os declínios cognitivos com o envelhecimento.
O que, de fato, sabemos, é que, diferenças genéticas levam a diferenças na inteligência. Nos próximos anos, certamente, a genética molecular nos revelará o segredo que alguns genes carregam sobre a beleza da inteligência.