
Aposentadoria mental
A
frase “Use-o ou perca-o” reflete uma hipótese contida na literatura popular e
científica referente ao efeito de uma pessoa poder retardar o envelhecimento
cognitivo, isto é, o declínio da habilidade de raciocínio e da velocidade de
processamento mental com a idade, ou mesmo demência, engajando-se em atividades
cognitivamente demandantes que exercitam a mente. Inversamente, esta hipótese
sustenta que um ambiente não demandante fracassará de impedir, e pode até mesmo
acelerar, o processo de declínio cognitivo. Assim considerando, aposentados,
devem ser convencidos a manter um estilo de vida engajada, que envolva
atividades intelectualmente estimulantes e ativas, tais como, leitura, jogos
variados e palavras cruzadas, quebras-cabeça e similares.
De fato, o crescimento da população
maior de 65 anos no mundo industrializado, bem como, nos países em
desenvolvimento, tem profundas implicações para a saúde pública e custos
econômicos de cuidados médicos. Declínios cognitivos e cerebrais, em função do
envelhecimento, representam causas predominantes da perda de autonomia em
populações de idosos. Em adição, a expectativa de vida aumentada combinada com
uma diminuição na idade média de aposentadoria tem aumentado a proporção do
tempo de vida individual na aposentadoria. Esta mudança estrutural tem imposto
desafios aos sistemas de previdência social do ponto de vista de sua
sustentabilidade. Porém, este alongado período de aposentadoria provoca
questões sobre suas conseqüências sobre a saúde mental e física dos idosos, a
qual pode, por sua vez, afetar os despêndios de cuidados de saúde a
longo-prazo.
Fruto disso, estudiosos têm
analisado o efeito da aposentadoria no funcionamento cognitivo. Para tanto,
participantes de 51 a 75 anos foram aferidos quanto às suas habilidades
cognitivas, través de um simples teste que mensurou a memória episódica
refletida num teste de aprendizagem verbal e de relembrar. Esta tarefa de
memória episódica consistiu em aprender uma lista de 10 nomes comuns, tais
como, livro, criança, hotel, entre outras, e depois solicitar ao participante
que relembrasse quantas palavras ele havia memorizado, em qualquer ordem.
Globalmente, os resultados revelaram
um impacto causal negativo e significante sobre o funcionamento cognitivo,
próximo a 10%.Ademais, e muito importante, os resultados sugerem que, embora o
efeito da aposentadoria sobre o funcionamento cognitivo não seja instantâneo,
muito do declínio ocorre no começo do período de aposentadoria, tendendo a se
estabelecer depois.
Logo, políticas públicas, que visem
promover a participação de idosos na força de trabalho, podem, não apenas,
garantir a sustentabilidade dos sistemas de previdência social, como, também,
criar externalidades de saúde positiva para os idosos.