Avaliação da inteligência: primórdios

Avaliação da inteligência: primórdios

A avaliação da inteligência tem a sua história ligada às necessidades sociais de explicação do comportamento humano individual ou em  grupo e, também, com as preocupações mais práticas, por exemplo, as mais diretamente ligadas com a melhoria do rendimento dos indivíduos, tanto nos desempenhos acadêmicos/ escolares quanto na alocação de postos de trabalhos. Assim, os testes psicológicos foram criados e são ainda utilizados principalmente para a determinação e análise das diferenças individuais na inteligência, aptidões específicas, conhecimentos acadêmicos/escolares, adequação vocacional e das dimensões não intelectuais da personalidade.

Os testes têm sido também muito utilizados numa grande variedade de estudos de grupos sob o ponto de vista psicológico, educacional, cultural, sociológico e na seleção e colocação de pessoal. Os testes psicológicos parecem desempenhar um papel muito importante em diferentes contextos do nosso cotidiano e, portanto, podem afetar significativamente a vida de muitas pessoas. Todavia, somente a partir do início do século XIX é que os testes, principalmente para a mensuração da inteligência, começaram a adquirir um significado confiável e válido.

 

Os primórdios da mensuração da inteligência

Vários historiadores interessados na origem e no desenvolvimento dos testes de inteligência mencionam que em alguns dos primeiros escritos da civilização estava documentado que sábios daquela época estavam usando alguma forma  de avaliação psicológica dos indivíduos baseada nas diferenças individuais nos traços físicos, intelectuais e de personalidade. De fato, há passagens em  Platão indicando que avaliações individuais, com o propósito de selecionar jovens para prestarem serviço ao estado,  baseadas nas diferenças individuais tanto nas habilidades mentais quanto nas habilidades físicas já eram praticadas na Grécia Antiga há 2.500 anos.  Similarmente, há documentos comprovando que por volta dos anos 200 a 100 a. C.  (2.000 anos antes de Alfred Binet e Theodosius Simon construírem o primeiro teste psicológico moderno), vários testes objetivos estavam sendo utilizados na China Antiga pelas autoridades locais, sob a supervisão do Imperador da China, para a seleção dos indivíduos mais hábeis para o serviço civil nas diferentes esferas do governo chinês daquela época.  Várias aptidões e habilidades mentais, tais como  verbal, escrita, espacial, numérica, eram comumente avaliadas e mensuradas. Todavia, as preocupações com a mensuração da inteligência em termos operacionais (fazendo uso de instrumentos específicos) são mais recentes, remontando os primeiros testes ao final do século XIX  ou início do século XX.

De fato, os primeiros testes mais sistematizados e padronizados tiveram seu início com as contribuições de Francis Galton em Londres, Emil Kraepelin, na Alemanha, e Alfred Binet, em Paris, no fim do século XIX. Galton publicou estudos sobre as diferenças individuais em matemática entre os estudantes da Universidade de Cambridge em 1869, seguida por uma publicação em 1883 sobre as salientes diferenças individuais nas respostas sensoriais e psicomotoras que ele havia registrado das pessoas que visitaram o Museu de Kensington, no sul de Londres,  e em 1884 também publicou um artigo sobre a mensuração do caráter e personalidade indicando direções que são tão atuais hoje quanto foram um século atrás. Concomitantemente,  em 1890 um dos estudantes de Galton, o Psicólogo norte-americano James McKeen Cattell, publicou na revista "Mind" o primeiro artigo científico moderno sobre avaliação psicológica intitulado: Testes Mentais e Mensuração".  Emil Kraepelin, também no século XIX,  publicou um sistema de classificação dos indivíduos com desordens psicológicas e psiquiátricas em diferentes tipos de categorias diagnósticas.

O atual  Manual Diagnóstico e Estatístico dos Distúrbios Mentais, editado pela Associação Americana de Psiquiatria, é uma versão aprimorada do sistema publicado por Kraepelin.  Todavia, o protótipo de todos os testes de mensuração de inteligência surgiu a partir do ambicioso e longo programa de estudos conduzido por Binet e colegas durante a década de 1895 a 1904. Fruto deste intenso programa de trabalho surgiu em 1905 a Escala Métrica da Inteligência editada por Binet juntamente com o seu mais direto colaborador, Theodosius Simon. Este teste permitia diferenciar os atrasos escolares diretamente ligados às deficiências intelectuais, dos atrasos associados com condições ambientais desfavoráveis (família, bairro, escola etc...). Estudos posteriores revelaram que os escores obtidos na Escala de Binet-Simon eram índices válidos de diferenças individuais de nossas atividades cotidianas, tais como as observações feitas pelos professores e pais, a qualidade dos trabalhos escolares, a colocação em classes de educação especial ou em escolas de treinamento, a posição em séries avançadas ou atrasadas em relação aos pares nas escolas públicas e nos julgamentos grosseiros do desempenho ocupacional após deixar a escola.

Os sucessos obtidos por Galton, Cattell, Kraepelin, Binet e Simon na avaliação das diferenças individuais nas habilidades mentais, nos traços de personalidade e nas desordens psicopatológicas foram posteriormente expandidos a outros domínios, tais como: (a) mensuração das diferenças individuais no temperamento e personalidade através do uso de testes projetivos e objetivos, (b) mensuração das diferenças nas aptidões e desempenhos das crianças, (c) mensuração das diferenças individuais no comportamento de  liderança e também das habilidades de persuasão e das relações inter- e intrapessoais e (d) mensuração das diferentes funções neuropsicológicas envolvidas na  cognição, memória, percepção e atenção.

 

Medidas da inteligência

Os dois testes mais amplamente utilizados para a avaliação  da inteligência geral continuam sendo aqueles que dominaram a testagem da inteligência durante a maior parte do último século:  o Teste de Wechsler e o Teste de Stanford-Binet . O uso de outros testes, nomeadamente os testes escolásticos, tem permanecido estável durante o último século. Todavia, independente da frequência com que estes testes têm sido utilizados,  podemos atualmente classificar os testes de inteligência em duas grandes categorias: os testes estáticos e os testes dinâmicos. Veja manuscrito o manuscrito seguinte.

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