Avaliação da inteligência: princípios

Avaliação da inteligência: princípios

Princípios básicos da mensuração da inteligência
Independente da concepção de inteligência e da abordagem focalizada na avaliação, a mensuração da inteligência deve ser norteada por cinco princípios básicos.
Primeiro, as tarefas que compõem os testes de inteligência, se verbal ou não verbal, medem o que os indivíduos têm aprendido. De fato, estes testes, iguais aos outros testes de realização, medem aquisições passadas e são preditivos do sucesso em desempenhos escolares tradicionais.
Segundo, os subtestes incluídos nos testes de QI (Quociente Intelectual) individuais são amostras de comportamentos e não são exaustivos. Devido ao fato de que os diferentes subtestes oferecem apenas um breve vislumbre do nível completo de funcionamento cognitivo da criança, os examinadores devem ser cautelosos em generalizar os resultados de desempenho e comportamentos para outras circunstâncias. Em outras palavras, cada teste de QI pode apenas incluir um número relativamente pequeno e finito de tarefas separadas por causa de suas próprias limitações temporais. Cada teste pode apenas ilustrar aspectos da habilidade cognitiva do indivíduo; a probabilidade do teste ignorar importantes potencialidades e mesmo fraquezas é muito grande, e, portanto, qualquer escore global obtido nunca deve ser tomado como verdadeiramente global e único.
Terceiro, as tarefas que compõem os testes de QI avaliam o funcionamento mental sob condições experimentais fixas. Certamente, a aderência rígida aos procedimentos padronizados de administração e de aferição de cada subteste ajuda a garantir que todas as crianças e adultos são mensurados de uma maneira objetiva. Todavia, partes do procedimento padronizado tornam a situação de testagem muito diferente de uma situação natural. Assim, o valor do teste de inteligência é substancialmente enriquecido quando o examinador pode significativamente relacionar observações do comportamento das crianças e dos adultos na situação de teste e conhecimento específico sobre a situação real de vida do indivíduo ao perfil final dos escores.
Quarto, os subtestes compondo um teste de QI são funcionalmente otimizados quando interpretados a partir do ponto de vista de um modelo de processamento de informação. Este princípio é especialmente benéfico para ajudar a hipotetizar áreas funcionais de potencialidades e de disfunção Este modelo recomenda examinar como a informação entra no cérebro a partir dos órgãos dos sentidos (entrada), como a informação é interpretada e processada (integração), como a informação é armazenada para posterior recuperação (armazenagem) e como a informação é expressa lingüística ou motoricamente (saída) .
Quinto, as hipóteses geradas dos perfis dos testes de QI devem ser suportadas com dados de múltiplas fontes. O que este princípio indica é que as hipóteses geradas unicamente a partir dos escores finais dos testes de QI não devem ser consideradas sólidas, a menos que suportadas por outros tipos de dados. Estes dados adicionais podem ser oriundos das observações cuidadosas do comportamento do indivíduo durante a administração do teste; do padrão de respostas entre os vários subtestes; a partir do conjunto de informações obtidas dos pais, professores, terapeutas, o cliente ou de outras fontes eventualmente referidas; a partir de dados de testes anteriores e a partir da administração de subtestes complementares. A integração dos dados originados de todas estas fontes torna-se crítica em obter a melhor e a mais significativa interpretação clínica de uma bateria de testes.

Testes de novos tipos de inteligência
Recentemente, o campo de estudo da inteligência tem se defrontado com novos tipos de testes de inteligência. Estes testes são bastante diferentes dos tipos mais tradicionais frequentemente utilizados para a avaliação da inteligência, especialmente da concepção psicométrica da inteligência que tem sido aceita nos últimos 100 anos, desde a ideia original de Alfred Binet. Por exemplo, podemos encontrar disponíveis, pelo menos para pesquisa (mas, ainda não comercialmente) testes de inteligência prática, inteligência emocional, inteligência social, inteligência criativa, inteligência digital, entre outros. Na realidade, estes testes podem ser extremamente úteis em complementar ou mesmo enriquecer as formas mais convencionais de avaliação da inteligência baseadas em testes psicométricos rigorosamente estabelecidos.

Comentários finais
Os testes individualmente administrados para mensurar a inteligência permanecem sendo os melhores instrumentos clínicos disponíveis para entender aspectos (não todos) do funcionamento cognitivo e, talvez, mais importante, para interpretar o intelecto no contexto da personalidade. O uso eficaz dos testes de QI depende, em alguma extensão, do sucesso com que uma teoria tem sido traduzida para a prática e se a teoria escolhida é a "melhor" ou a mais completa. Torna-se muito importante que o examinador ou o usuário dos testes de inteligência entenda as bases teóricas dos constructos mensurados pelos testes de QI e também estejam familiarizados com o enorme volume de dados de pesquisas sobre os diferentes testes de QI.
Todavia, é importante mencionar que, diferente de muitas outras conquistas tecnológicas que rapidamente ocorreram nos últimos anos, como por exemplo, os sistemas de comunicação e os sistemas computadorizados de diagnóstico médico, onde o progresso foi extremamente impressivo, os avanços na indústria dos testes padronizados têm sido lento e na maioria das vezes sem substância. Os testes padronizados de mensuração da inteligência que ainda estamos utilizando diferem muito pouco daqueles testes que foram utilizados no decorrer do último século, desde a idéia genial de Alfred Binet em 1905. Na verdade, apenas mudanças cosméticas têm sido feitas, e lamentavelmente... Mas, como Psicólogo pesquisador acredito que, em função das pesquisas e dos desenvolvimentos recentes acerca da inteligência e do funcionamento cognitivo humano, poderemos em curto prazo inovar neste domínio do mesmo modo que virtualmente todas as outras tecnologias se desenvolveram. Espero....

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