
Avaliação da inteligência: testes estáticos e testes dinâmicos
Os testes estáticos
Os testes estáticos para avaliação da inteligência envolvem a apresentação de diferentes itens que são respondidos por um dado examinando sem qualquer "feedback" ou menção acerca do seu desempenho. A grande maioria dos testes convencionais de inteligência ou de habilidades diferenciadas pode ser enquadrada dentro desta categoria. Estes testes estáticos podem ser ainda agrupados em três subgrupos. No primeiro subgrupo inserem-se os testes que são baseados em teorias psicométricas. Uma das teorias mais amplamente utilizada é a Teoria de Cattell-Horn que distingue as inteligências fluída e cristalizada.
Na inteligência fluída estariam incluídas as habilidades envolvidas em lidar com a novidade e a flexibilidade do pensamento. Na inteligência cristalizada estariam inseridas as habilidades envolvidas no armazenamento e no uso declarativo do conhecimento, tal como vocabulário. A partir de 1990, duas baterias foram desenvolvidas tomando como base esta teoria psicométrica da inteligência: o Teste de Inteligência de Adultos e Adolescentes, de Kaufman e o Teste de Habilidade Cognitiva, de Woodcock-Johnson. No segundo subgrupo há os testes que são baseados em teorias biológicas da inteligência. Embora a Teoria de Luria acerca da organização das habilidades não esteja no centro das discussões recentes em neurociência, ela tem sido destacada nas tentativas de construção de testes de habilidades cognitivas baseados numa teoria neuropsicológica.
De acordo com esta teoria, as quatro funções cognitivas básicas: planejamento, atenção, processamento simultâneo e processamento sequencial devem ser analisados em qualquer teste que pretende avaliar a inteligência em sua totalidade. Também, nos últimos cinco anos dois testes foram criados baseados nesta teoria: a Bateria de Avaliação das Crianças, de Kaufman e o Sistema de Avaliação Cognitiva, de Das-Naglieri. Um terceiro subgrupo consiste nos testes que são baseados nas teorias de sistemas da inteligência. Estas teorias concebem a inteligência de um ponto de vista mais amplo do que faz as teorias psicométricas convencionais. Estas teorias entendem que a inteligência é um sistema de habilidades que se interagem continuamente, mais do que um conjunto de habilidades isoladas. Duas destas teorias são a Teoria das Inteligências Múltiplas de Gardner e a Teoria Triárquica da Inteligência de Sternberg, ambas desenvolvidas na última década. De acordo com Gardner, a inteligência não é um constructo unitário, mas sim múltiplas. Há vários tipos de habilidades que compõem a inteligência e que poderiam potencialmente ser desenvolvidas de forma independente uma da outra. Até o presente momento não há testes padronizados e comercialmente disponíveis que sejam baseados na Teoria de Gardner. Todavia, o grupo de pesquisadores dirigido por Gardner na condução do Projeto Harvard Zero, independentemente e em colaboração com outros, têm indicado alguns princípios norteadores que podem ser empregados na avaliação da inteligência sustentada nesta teoria.
Quatro princípios têm sido sugeridos: (a) as avaliações devem ser contextualizadas para serem completas e imparciais, (b) as avaliações devem permitir diversos modos de respostas ou múltiplas maneiras de demonstrar a compreensão, (c) a avaliação deve ajudar a traçar o crescimento em função do tempo das habilidades das crianças em usarem as suas diferentes formas de inteligência, e (d) a avaliação dever ser considerada parte fundamental do processo de aprendizagem e, portanto, se engajando em reflexão e auto-avaliação os estudantes podem vir a entender as suas próprias inteligências e também como elas funcionam. Por exemplo, o Projeto Spectrum, que representa uma colaboração intensa entre os pesquisadores da Universidade de Harvard e da Universidade de Tufts, tem indicado algumas medidas de desempenho que são baseadas na idéia das inteligências múltiplas. Essas avaliações incluem registros de observação em domínios, tais como, movimento, música, ciência, arte e entendimento social, que são designados para ajudar os professores a reconhecerem as várias maneiras que os estudantes podem usar as suas inteligências múltiplas. Outras avaliações fazem uso de projetos e portfólios que permitem expandir os modos em que os diferentes tipos de inteligências são mensurados.
De outro lado, baseados na Teoria Triárquica da Inteligência, foram desenvolvidos dois testes não padronizados: um para crianças de 8 a 10 anos de idade e outro para indivíduos de 15 ou mais anos de idade. Estes testes que medem a habilidade analítica, criativa e prática, compostos com itens de escolhas múltiplas englobam os domínios verbal, quantitativo e figurativo. A ideia destes testes, tais como nos testes propostos por Gardner, é avaliar as habilidades que os testes convencionais de inteligência negligenciam ou ignoram. Os resultados obtidos com estes testes parecem ser promissores indicando que estas três habilidades podem ser precisamente mensuradas e também serem enriquecidas ou ensinadas.
Os testes dinâmicos
A avaliação dinâmica da inteligência refere-se aos diferentes enfoques que compartilham, em linhas gerais, de duas suposições básicas. A primeira suposição é que a validade dos testes estáticos (isto é, testagem que envolve pouco ou nenhum ensino) é adversamente afetada pela familiaridade com os tipos de pensamento requeridos nos testes. A segunda suposição entende que uma medida que diretamente avalia a aprendizagem pode ser um bom preditor do sucesso na aprendizagem e também ser especialmente útil no planejamento educacional. A avaliação dinâmica da inteligência tenta fornecer vários tipos de informação: (a) medidas mais válidas das habilidades mensuradas pelos testes estáticos; (b) medidas de diferentes habilidades, particularmente a habilidade para a aprendizagem ou modificabilidade; (c) compreensão e inferências acerca dos processos cognitivos que os examinandos usam ou fracassam em usar; e (d) indícios sobre os métodos instrucionais que são mais eficazes para os examinados.
Ao lado disso, alguns sistemas de avaliação dinâmica objetivam produzir ganhos duradouros no funcionamento cognitivo dos examinados. A rigor, enquanto a abordagem neuropsicológica dos testes de inteligência oferece uma concepção de habilidades que é uma alternativa àquela psicométrica, a abordagem dinâmica da inteligência focaliza menos a estrutura das habilidades e está mais interessada em um diferente aspecto do comportamento inteligente, nomeadamente, a habilidade para aprender. A avaliação dinâmica, todavia, se assemelha à avaliação baseada na teoria neuropsicológica por focalizar também os processos cognitivos e enfatizar a modificabilidade destes processos.
As técnicas da abordagem dinâmica podem ser de dois tipos de acordo com os procedimentos utilizados. No primeiro tipo, se faz uso de intervenções clínicas não padronizadas por parte do examinador para revelar os processos cognitivos em que o examinando parece ser mais fraco, identificar os métodos de intervenção mais eficazes e melhorar ou enriquecer os processos cognitivos dos examinados.
O outro tipo consiste das abordagens que fornecem padrões, mais do que intervenções clínicas, e que usam medidas objetivas do número e tipo de acertos requeridos, o grau de evolução alcançado após a intervenção ou o escore total pós-intervenção como resultado básico primário. O Teste de Processamento Cognitivo, elaborado por Swanson em 1996, é o único instrumento deste tipo, normalizado e com as propriedades psicométricas rigorosamente estabelecidas, utilizado nos Estados Unidos.